Benicio Del Toro dá vida a Pablo Escobar

por Marcelo Seabra

Morto em 1993, o chefão das drogas Pablo Escobar continua inspirando diversas obras a seu respeito. Um dos filmes mais recentes é Escobar: Paraíso Perdido (Escobar: Paradise Lost, 2014), disponível em homevideo. Talvez para facilitar a identificação do público internacional, o longa coloca um jovem canadense como protagonista, mas a grande força na tela é a presença de Benicio Del Toro, uma ameaça constante em torno da qual o filme gravita.

Famoso pela franquia Jogos Vorazes (The Hunger Games), apesar de desaparecer ao lado de Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson consegue a mesma proeza dividindo cenas com Del Toro (de Selvagens, 2012). Seu personagem é um surfista que vai parar na Colômbia com o irmão atrás de praias paradisíacas, e acaba se apaixonando pela sobrinha (Claudia Traisac) do popular Escobar, um milionário com obras beneficentes e ligações políticas. Em pouco tempo, o rapaz descobre a verdadeira fonte da fortuna do sujeito, e é inocente o suficiente para achar que não precisará sujar as mãos.

Evitando fazer uma cinebiografia e cair nos erros que a maioria comete, o diretor e roteirista estreante Andrea Di Stefano cria a figura do canadense, aparentemente inspirado em fatos, para nos conduzir pela história de Escobar sem a obrigação de cobrir tudo. É apenas um recorte, não pretendendo contar a ascensão ou a morte do colombiano. O que é um crime é que Hutcherson tenha mais tempo de tela, deixando um pouco de lado a figura fantástica que Del Toro cria, alguém ligado à família e à religião, que parece lutar pelo povo, mas que não titubeia ao mandar matar seus desafetos. Sua política era “dinheiro ou chumbo”, quem não aceitava suborno era executado. E o ator passa essa ameaça com o olhar, com a fala, nos detalhes.

O longa tem momentos interessantes de tensão, já que vai aos poucos envolvendo o estrangeiro na família. Chega a lembrar O Último Rei da Escócia (The Last King of Scotland, 2006), que traz uma situação similar com a relação entre o médico e o ditador Idi Amin. A estrutura convencional deste Paraíso Perdido não permite voos mais altos, com um resultado ligeiramente acima da média mesmo tendo um casal central insosso. E ficamos na expectativa de que Del Toro apareça mais, o que infelizmente não ocorre o suficiente.

Muito certinhos, esses dois não empolgam em momento algum

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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