por Marcelo Seabra
Frank é um pretenso gênio da música que ainda não foi descoberto. Ele segue ensaiando com a sua banda, fazendo pequenas apresentações e sendo admirado por quase ninguém. Mas os outros membros têm certeza de que ele é o líder a ser seguido. O problema é que nenhum deles parece ser muito certo da cabeça. Começando pelo próprio Frank, que nunca tira em público a enorme cabeça de papel machê que usa o tempo todo, escondendo seu rosto e abafando sua voz. Este ser peculiar é o protagonista de Frank (2014), longa independente que mistura comédia e drama de uma forma interessante.
Extremamente carismático, mesmo com o cabeção inusitado, Frank não demora a encantar Jon Burroughs, um sujeito sem muitas perspectivas que cai de paraquedas nos Soronprfbs quando a banda perde seu tecladista, que tentou o suicídio. Corpo estranho naquele grupo, Jon custa a ser aceito pelos demais membros, mas cai nas graças de Frank e consegue uma vaga no projeto de gravação do primeiro álbum. Sonhando com a fama, Jon tenta fazer os Soronprfbs alçarem um vôo maior, sempre apostando no talento de seu frontman.
Depois de três trabalhos muito elogiados e pouco vistos, Lenny Abrahamson convocou atores mais conhecidos do grande público para ter um atrativo a mais. A escolha para fazer Frank é a mais curiosa, e muito acertada. Michael Fassbender, mais lembrado como o jovem Magneto dos X-Men, chega à sensibilidade necessária para criar um personagem que precisa se expressar através da voz e dos gestos – já que o rosto não aparece. Um grande desafio que o ator supera facilmente, além de formar uma ótima dupla com Domhnall Gleeson (de Questão de Tempo, 2013), que vive Jon. Completando o triângulo amoroso, temos Maggie Gyllenhaal (de Coração Louco, 2009) tocando o teremin, mais uma figura peculiar a seguir Frank.
Destaque no Festival de Sundance no ano passado, o filme é ligeiramente inspirado na vida de Frank Sidebottom, nome artístico do músico e comediante Chris Sievey, que teve diversas aparições no rádio e na TV com uma cabeça similar à que vemos na tela. Jon Ronson, colega de Sievey na Oh Blimey Big Band, é o roteirista de Frank ao lado de Peter Straughan, repetindo a parceria de Os Homens Que Encaravam Cabras (2009), cujo livro foi escrito por Ronson e adaptado por Straughan. Além de Sievey, o personagem tem traços de outras celebridades da música, como Daniel Johnston e Captain Beefheart. Não é exatamente a vida de nenhum deles, mas bebe em todas as fontes.
Como disse James Bond (em O Amanhã Nunca Morre, de 1997), “a diferença entre a loucura e a genialidade é medida somente pelo sucesso”. Se Frank ganhasse milhões e se tornasse um artista reconhecido mundialmente, ninguém o chamaria de louco. No máximo, de excêntrico. Muita gente no mundo real se encaixa nessa situação. Como o sucesso não acontece o tempo todo, conclui-se que tem muita gente louca por aí.