Constantine merece a segunda temporada

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Criado pelo escritor Alan Moore (Watchmen, V de Vingança, Do Inferno) na década de 1980 para ser um coadjuvante do Monstro do Pântano, o mago John Constantine logo se tornou popular especialmente por representar a antítese dos heróis que se via nos quadrinhos de então. Arrogante, prepotente, frio, calculista e carismático, Constantine logo ganhou sua própria revista. John Constantine: Hellblazer foi um marco para a DC Comics e o primeiro título do então selo da editora voltada para o público adulto, o Vertigo.

Depois de uma adaptação malfadada em 2005, estrelada por Keanu Reeves e Rachel Weisz e execrada pelos fãs, a NBC resolveu dar ao personagem mais uma chance. A série Constantine estreou nos Estados Unidos em 24 de outubro de 2014, estrelada pelo britânico Matt Ryan (de séries como Criminal Minds e The Tudors) e, apesar de se manter mais próxima de suas origens do que o filme de Reeves, ainda assim não foi poupada pelos fãs dos quadrinhos, especialmente pelo fato de ela se basear mais no gibi Constantine (lançado pela DC em 2013) do que em John Constantine: Hellblazer, aquele responsável por sua popularidade. Além disso, toda a publicidade da série dava a entender que Constantine seria mais algo como um Supernatural genérico, visando atrair os fãs dos irmãos Winchester para si.

Essa repercussão negativa foi tão forte que, inicialmente programada para 22 episódios, ou seja, uma temporada completa, logo foi anunciado que a NBC optaria por uma série limitada com apenas 13 episódios. Após a temporada ter sido encerrada no dia 13 de fevereiro, essa decisão parece um pouco precipitada. A exemplo de diversas séries – como Marvel’s Agents of S.H.I.E.L.D. e a saudosa Arquivo X – Constantine é daquelas produções televisivas que precisam de tempo para encontrar seu próprio ritmo de forma a agradar não só aos fãs (lembrando que esse é um público difícil e restrito), mas encontrar sua própria audiência. Inicialmente, os roteiristas tentaram agradar tanto os fãs antigos quanto os novatos e ainda trabalhar ao redor das regras restritivas da TV aberta nos Estados Unidos, que não permitiriam, por exemplo, mostrar Constantine, um fumante inveterado nos quadrinhos, fumando. A partir do momento em que esses entraves foram superados, a série se desenvolveu de maneira surpreendente. E, sim, John aparece fumando em diversos episódios.

Não sou fã de Supernatural, logo, não sei como ela funciona, mas imagino que o modelo seja o mesmo usado aqui e em Arquivo X: desde o primeiro episódio, vemos Constantine percorrendo os Estados Unidos (e não a Inglaterra, como no gibi original) atrás de fenômenos sobrenaturais ligados, impreterivelmente, à manifestação de alguma figura demoníaca na Terra, enquanto uma trama maior se desenvolve em segundo plano. Com o apoio da paranormal Zed (Angélica Celaya, da série Dallas), do taxista Chas (Charles Halford, de True Detective) e do relutante anjo Manny (Harold Perrineau, de A Hora Mais Escura, 2012), Constantine tenta, ao enviar um espírito demoníaco semanalmente de volta para o inferno, impedir o evento chamado Trevas Ascendentes, que abriria os portões do submundo trazendo o Apocalipse sobre o planeta.

Nesses treze primeiros episódios, a série apresentou algumas histórias interessantes, com alguns easter eggs (como a Delano Street, homenagem ao primeiro escritor do gibi solo do personagem, Jamie Delano) e, principalmente, um desempenho quase perfeito de Matt Ryan, que fez qualquer um esquecer o Constantine de Reeves. Ryan conseguiu trazer boa parte do carisma e da canalhice – dadas as restrições da TV aberta americana – de John Constantine para a TV, sem contar o fato de seu sotaque galês forte combinar muito mais com o personagem do que a fala californiana de Reeves. Nota-se o esforço dos roteiristas em tentar serem fiéis à natureza do personagem, por mais difícil que isso seja. Talvez em um canal como o Starz ou a HBO, essa tarefa tivesse sido menos penosa.

Constantine parece ter superado a desconfiança de boa parte de seu público alvo, como comprova a campanha para a renovação da série (#saveconstantine). Boatos de que a série migraria para o canal por assinatura Syfy pipocaram na internet nas últimas semanas, mas, segundo o site cinenablend, se mostraram falsos. Segundo essa mesma fonte, a NBC, apesar de ter reduzido a primeira temporada da série, ainda não declarou seu cancelamento oficial e pode ser até que a rede trate Constantine da mesma forma que Hannibal, ou seja, sempre com temporadas limitadas a 13 episódios. Caso a NBC opte por essa solução, não encontraria quaisquer problemas em termos de continuidade, já que a primeira temporada terminou deixando diversos ganchos para uma continuação. Teremos novidades em maio.

Uma imagem que já bate o longa de 2005

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Muito boa a análise de Constantine, sou fã de Supernatural e acompanho a série desde a sua estreia. Realmente, as comparações foram inevitáveis, já que parecíamos estar vendo a famosa fórmula do 'Monstro da Semana' se repetir, mas para nosso alívio, a trama das 'Trevas Ascendentes' começou a tomar forma mais definida e passou a ser uma ameaça real. É empolgante a referência a Brujeria, até um Invuche ele enfrentou. Só sinto falta de referências ao Monstro do Pântano, pois foi na HQ dele que Constantine surgiu. Enfim, torço para um saldo positivo e uma segunda temporada, Constatine tem uma mitologia excelente para ser explorada.

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