por Marcelo Seabra
Dando um tempo na ação desenfreada, Liam Neeson partiu para o novo drama de Paul Haggis, diretor e roteirista lembrado pelo premiado Crash – No Limite (2004), longa que trazia várias histórias entrecortadas e alguns nomes estelares no elenco. Com Terceira Pessoa (Third Person, 2013) não é diferente, só o foco é outro. Ao invés de tratar da violência das grandes cidades, Haggis foi mais poético e voltou sua atenção a um escritor com bloqueio criativo que decidiu mudar radicalmente de vida.
Com lançamento mundial no Festival de Toronto em setembro de 2013, o filme foi aos poucos chegando nos demais países, e só agora ao Brasil. Talvez, as críticas negativas tenham algo a ver, inibindo uma estreia mais ágil e barulhenta. De fato, trata-se de uma obra menor de quem realizou No Vale das Sombras (In The Valley of Elah, 2007) e Crash e escreveu 007 – Cassino Royale (Casino Royale, 2006), entre outros. São mais de 130 minutos cruzando tramas por Paris e Roma, centradas em três núcleos. Ficamos na expectativa de como esses grupos vão se encontrar, se é que vão, e como tudo será amarrado.
Neeson (da trilogia Busca Implacável) vive Michael, o tal escritor que se muda para Paris, deixa a esposa (Kim Basinger, de Ajuste de Contas, 2013) e busca criar sua próxima obra. Ele tem a companhia de Anna (Olivia Wilde, de Rush, 2013), numa relação que parece ser bem complicada. Paralelamente, conhecemos Julia (Mila Kunis, de O Destino de Júpiter, 2015), uma atriz falida que busca resolver a situação da guarda do filho com o ex-marido (James Franco, de A Entrevista, 2014). E tem o ladrão de designs de roupas (Adrien Brody, de Grande Hotel Budapeste, 2014) que decide ajudar uma desconhecida (Moran Atias, da série Crash, 2008) a recuperar a filha.
No meio do caminho, as coisas ficam cansativas. Algumas pistas são deixadas por Haggis, para que o público possa decifrar o que está havendo. O problema é o espectador já ter desistido a essa altura. Mas, ao final da sessão, as peças se encaixam e a experiência de torna menos pesarosa – se é que isso é possível. Poderia uma conclusão ser poderosa o suficiente a ponto de mudar a sua opinião a respeito da obra toda? Na pior das hipóteses, Terceira Pessoa é um filme coerente e bem amarrado. E mesmo seus detratores devem concordar que Haggis não é apenas mais um cineasta contratado filmando a bobagem da semana. Ele pode até ter errado o alvo, mas a vontade de continuar acompanhando-o permanece.