Longa de Bob Esponja mantém o espírito anárquico da TV

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

SpongeBob

Quando saí da sessão de Bob Esponja: Um Herói Fora d’Água (The SpongeBob Movie: Sponge Out of Water, 2015), o pensamento que mais se repetia em minha mente era: “esses caras tomaram LSD antes de escrever o roteiro desse filme, só pode”, tamanho é o nonsense da história escrita por Glenn Berger, Jonathan Aibel (ambos das franquias Kung Fu Panda e Alvin e os Esquilos), Stephen Hillenburg e Paul Tibbitt (roteiristas veteranos da série animada do personagem esponjoso). O mais legal é que é justamente esse espírito anárquico, sem se preocupar muito que as coisas façam sentido, é que faz a série algo tão popular entre crianças e (alguns) adultos e torna o longa-metragem baseado nela algo tão divertido. Até porque, convenhamos, não há como procurar sentido em uma animação baseada em uma série de TV que gira em torno de uma esponja que vive em um abacaxi no fundo do mar, correto?

A trama de Um Herói Fora d’Água não é algo que surpreenda aos fãs do desenho, muito pelo contrário, pois já foi explorada de diversas maneiras tanto na TV quanto no primeiro longa da turma da Fenda do Biquíni, lançado em 2004. Era de se esperar que o vilão fosse o mesmo de sempre, o minúsculo Plâncton (Mr. Lawrence), que tentaria roubar a fórmula do Hambúrguer de Siri do Sr. Siriqueijo (Clancy Brown), visando, com isso, conquistar fama e, principalmente, fortuna no ramo do fast food. O ladrão de fórmulas aqui, no entanto, não é o Plâncton e, sim, um pirata interpretado de maneira bastante relaxada e mesmo caricata por Antonio Bandeiras (de Os Mercenários 3, 2014).

SpongeBob Bandeiras

A partir do momento em que a fórmula desaparece e o hambúrguer não pode mais ser produzido, a Fenda do Biquíni entra em um colapso de proporções apocalípticas e cabe a Bob Esponja (Tom Kenny), seu melhor amigo Patrick (Bill Fagerbakke), o rabugento Lula Molusco (Rodger Bumpass), a esquilo Sandy (Carolyn Lawrence), o Sr. Siriqueijo e um hesitante Plâncton unirem forças para ir à superfície recuperá-la e salvar sua cidade.

Bob Esponja: Um Herói Fora d’Água tem 85 minutos de puro nonsense. Apesar de ter uma trama definida, as situações que se sucedem ao longo da película são muitas vezes surpreendentes, sem sentido e até geniais. A sequência onde o Plâncton invade o cérebro de Bob Esponja e se espanta com o que encontra lá dentro ou as viagens temporais nas quais a dupla se aventura em busca do ladrão da fórmula do Hambúrguer de Siri são bons exemplos desse tipo de descompromisso dos roteiristas em seguir qualquer lógica. E é interessante perceber o quanto o quarteto de escritores conhece seu público, pois em ambas as sequências há referências que, muito provavelmente, adultos perceberão. Não creio que qualquer criança saque, por exemplo, a homenagem a O Iluminado, de Kubrick. A Marvel e seus Vingadores também são outra fonte de inspiração, especialmente no terceiro ato, quando a animação 2D dá lugar à 3D, com o quinteto do fundo do mar circulando na superfície e interagindo com atores de carne e osso. Essa, inclusive, é a única passagem que justifica a sessão ser assistida em 3D. O resto do filme pode ser visto até mesmo sem os óculos sem maiores problemas. Outro destaque do filme é o pirata de Antonio Bandeiras. O ator incorpora de maneira bastante interessante o exagero e a falta de noção (pra não repetir novamente o termo nonsense) que permeia a série e seus personagens, tornando seu vilão um exemplar típico de inimigo para Bob Esponja & Cia. É bem legal ver um artista conceituado como Bandeiras mergulhando nesse tipo de papel, ignorando quaisquer possíveis críticas sobre exageros em sua atuação já que, afinal, é isso que o personagem exige.

Bob Esponja: Um Herói Fora d’Água é exatamente aquilo que os fãs esperavam do longa: um filme sem sentido, totalmente sem noção e extremamente divertido. E vem chamando a atenção nas bilheterias, perdendo nas últimas semanas apenas para a sensação Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey, 2015). Vale a pena ver até mesmo dublado, já que a mesma equipe que trabalha na série de TV foi escalada aqui. E achar sessões legendadas do filme é algo mais difícil do que roubar a fórmula do Hambúrguer de Siri.

Os personagens chegam ao mundo real!

Os personagens chegam ao mundo real!

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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