por Marcelo Seabra
Não são poucos os filmes que mostram um futuro apocalíptico, com cidades destruídas e selvageria nas ruas. The Rover – A Caçada (2014) é mais um a ir nessa direção e divide com A Estrada (The Road, 2009), além do tema similar, o fato de ter um diretor australiano e de contar com Guy Pearce no elenco. O ator é o protagonista, o andarilho do título original, e seu personagem tem uma motivação no mínimo estranha: ele apenas quer seu carro de volta. Quando não se tem nada a perder e o resto de esperança se foi, vale tudo. As amarras sociais já eram.
Pearce vive um sujeito que parece levar uma vida pacata e esconde um passado provavelmente sangrento. Só sabemos o necessário para acompanharmos a trajetória dele em busca do carro roubado. Assim como acontece em De Volta ao Jogo (John Wick, 2014), no qual Wick tinha o cachorro assassinado e buscava a desforra contra a máfia russa, Pearce está determinado a fazer o necessário. Matar, por exemplo, é algo simples, corriqueiro, e a vingança é certa. Sobraram poucas pessoas nas redondezas, e elas ficam a longos intervalos umas das outras. Cada um deve ficar bastante tempo vendo apenas os poucos conhecidos, sem ninguém estranho no meio. Qualquer aproximação é recebida com desconfiança. Cachorros, se não forem protegidos, viram comida.
Para conseguir o carro de volta, a única pista que o protagonista tem é o irmão do ladrão, que está ferido e é feito refém. Em uma variante da Síndrome de Estocolmo, o rapaz acaba se aproximando do seu sequestrador, tamanha é a falta que ele parece sentir de contato humano. A carência, num mundo inóspito, despovoado e violento, é perfeitamente compreensível. E Robert Pattinson, mais conhecido como o vampiro Edward de Crepúsculo (Twilight), é uma boa surpresa ao caracterizar seu personagem como alguém que busca uma figura masculina de referência, algo próximo a um pai ou um amigo. Sua interpretação discreta mostra que ele pode estar crescendo como artista, evitando os maneirismo que tanto mostrou no novelão que o fez famoso.
Famoso pela boa estreia na tela grande, o policial Reino Animal (Animal Kingdom, 2010), David Michôd se tornou um diretor a se acompanhar. Ele próprio escreveu o roteiro deste A Caçada, baseando-se numa história sua e do amigo Joel Edgerton. Ele é bem objetivo – percebe-se pela curta duração do filme – e explora bem tanto paisagens ao longe quanto cômodos fechados, passando uma certa desolação em ambos. O estilo cru de Michôd casou bem com os dois gêneros pelos quais passou, o que só aumenta a expectativa pelos próximos projetos.