Jennifer Lawrence é o tordo da Esperança

por Marcelo Seabra

Depois de duas aventuras, Katniss Everdeen continua aprendendo o que é necessário para ter uma revolução bem sucedida. Mesmo que não buscasse isso. Em Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 (The Hunger Games: Mockingjay – Part 1), entramos mais na disputa entre rebeldes e governo oficial e entendemos que, apesar das intenções, a forma de atuar de ambos é basicamente a mesma. Talvez por isso, as coisas tenham ficado mais interessantes na franquia: a ação diminuiu proporcionalmente às estratégias para vencer a guerra. Para manipular a opinião pública, vale criar heróis, difamar o oponente e apelar à emoção.

Entre as obras voltadas ao público de jovens adultos, e não são poucas, Jogos Vorazes permanece como a mais interessante. As sequências mantêm o bom nível observado no primeiro, no qual a escritora Suzanne Collins junta um punhado de referências, soma algumas boas alegorias e metáforas e constrói uma história rica estrelada por uma protagonista forte. Juntando tudo isso à bela e competente Jennifer Lawrence (abaixo), uma atriz em ascensão, com Oscar e tudo, e um ótimo elenco de apoio, o resultado tem sido bem sucedido entre público e crítica, o que é cada vez mais raro. Mesmo arrecadando um pouco menos que os antecessores, os bolsos dos realizadores não têm do que reclamar.

Resgatada do cenário destruído dos jogos, Katniss descobre que há um grupo de insurgentes contra o Presidente Snow (Donald Sutherland). Os rebeldes são liderados por outra presidente, Alma Coin, que coordena os distritos contra a capital e busca acabar com a ditadura de Snow. Além de termos uma ótima adição ao elenco, com Julianne Moore (de Carrie, A Estranha, 2013) no papel, abre-se uma discussão intrigante sobre a natureza do líder. Até que ponto pode-se ir em defesa de um ideal supostamente nobre? Quando a presidente passa a ser tão prejudicial quanto o presidente? Qual a diferença entre os dois regimes?

A população passa a viver em um subsolo construído às pressas após o distrito ser atacado por bombardeios e sobrar pouca coisa. Coincidentemente, a casa da heroína fica intacta, e temos mais algumas incongruências e clichês ao longo das duas horas de projeção. Nada que estrague, mas que poderia ter sido facilmente contornado. A participação de Peeta Mellark (Josh Hutcherson) diminui, embora a importância do personagem para a trama aumente. O oposto acontece com o outro galã, Gale (Liam Hemsworth), que aparece mais, mas se torna apenas um soldado, como vários outros. E Katniss ganha novos companheiros, que devem inclusive captar imagens da moça para construir uma espécie de propaganda política usando-a para fazer o povo se unir e partir para a guerra. Natalie Dormer (abaixo), que vive uma dessas aliadas, pode ser vista em diversas produções, de The Tudors e Game of Thrones, na TV, a Rush (2013) e Capitão América (2011).

Assim como o diretor, Francis Lawrence, vários membros do elenco do longa anterior voltam, sendo os destaques Elizabeth Banks e Woody Harrelson. Ela tenta dar um toque fashion aos uniformes militarizados que os rebeldes usam, se recusando a se conformar com o que tem para vestir desde que saiu da capital. Ele fica sóbrio pela primeira vez em muito tempo e terá um papel importante na formação do “Tordo”, como todos se referem ao símbolo da revolução personificado por Katniss. Outro que repete seu papel é Philip Seymour Hoffman, e causa um certo desconforto saber que tanto talento foi desperdiçado com a morte súbita do ator no início do ano. Suas cenas ainda não haviam sido finalizadas e algumas falas foram passadas a outros personagens, para que não fosse necessário fazer truques digitais com a imagem dele.

Os roteiristas de A Esperança, Peter Craig (de Atração Perigosa, 2010) e Danny Strong (de Virada no Jogo, 2012), são novos na franquia, e fizeram um bom trabalho na questionável divisão do terceiro livro em dois filmes. Era necessário? Talvez não, mas eles aproveitaram bem a oportunidade para desenvolver as situações que careciam de mais tempo, e o resultado não ficou muito longo – como o episódio anterior. E tem agradado os fãs dos livros, que consideram a adaptação fiel. Agora, é esperar até novembro do ano que vem, quando descobriremos como essa saga termina.

Em memória de Philip Seymour Hoffman – 1967 – 2014

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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