por Marcelo Seabra
É de se esperar que um ator que viva um personagem icônico como James Bond tenha receio de ficar marcado e que procure fugir ao máximo do papel, com projetos que mirem outras direções. Por isso, foi surpreendente que Pierce Brosnan tenha feito, em 2001, o ótimo O Alfaiate do Panamá (The Tailor of Panama), longa que o colocava novamente como um espião. Mas a história, baseada em um original de John le Carré, era criativa e interessante o suficiente e cabia a Brosnan um tipo cínico e escorregadio, bem diferente do violento e galanteador Bond. Sem medo de se repetir, o ator agora volta a viver um agente especial em The November Man: Um Espião Nunca Morre (2014). Mas o resultado passa longe do Panamá.
Com mais ação que a história de John le Carré, esta, de Bill Granger, não economiza perseguições e tiros, prato cheio para quem prefere um filme mais movimentado. Mas é uma trama bem esquecível, a velha tática do traidor que manipula o herói. Cabe a Brosnan descobrir quem é que está dando as cartas e eliminá-lo. Seu Peter Devereaux é um veterano da CIA que se retirou da correria e administra uma pousada num lugar paradisíaco. Seu antigo colega, Hanley (Bill Smitrovich, de Ted, 2012), o convoca para uma missão que só ele pode realizar: resgatar uma antiga paixão de território inimigo. As coisas, no entanto, desandam e ele se vê perseguido por todos os lados. Para piorar, ele ainda deverá enfrentar seu ex-protegido, Mason (Luke Bracey, de G.I. Joe: Retaliação, 2013 – abaixo).
Pouco depois que deixou Bond, era a intenção de Brosnan dar vida a Devereaux. Os direitos sobre a obra foram comprados em 2005 e, por uma série de percalços, a adaptação só aconteceu agora. O ator anunciou que havia conseguido o diretor que queria, Roger Donaldson, e que as coisas finalmente aconteceriam, provavelmente de olho em uma nova e rentável franquia. Mas, ao mesmo tempo em que assina grandes trabalhos, como Sem Saída (No Way Out, 1987), Treze Dias Que Abalaram o Mundo (Thirteen Days, 2000) e Efeito Dominó (The Bank Job, 2008), o cineasta é responsável por bobagens como A Fuga (The Getaway, 1994), O Inferno de Dante (Dante’s Peak, 1997) – também com Brosnan – e o mais recente O Pacto (Seeking Justice, 2011), uma das muitas bombas de Nicolas Cage. Ou seja: trata-se de um diretor de altos fantásticos, mas baixos abissais.
O livro no qual o filme se baseia, There Are No Spies, é cronologicamente a sétima aventura do personagem, e foi lançado em 1986. Coube aos roteiristas, Karl Gajdusek (de Oblivion, 2013) e Michael Finch (de Predadores, 2010), atualizá-lo, mas a cara de passado permanece. Ao contrário das mais novas empreitadas de le Carré (como o atualíssimo O Homem Mais Procurado, 2014), este November Man continua naquele ranço de americanos contra soviéticos, parece estar em plena Guerra Fria até hoje. Não há o menor risco de Devereaux se ferir gravemente, e não nos importaríamos nada se isso acontecesse. É preciso reconhecer que, se a sessão do longa não se torna ainda mais aborrecida, isso deve-se ao charme e à autoconfiança de Brosnan, que mesmo sendo bem canastrão, tem muito carisma. Num clima de paródia, talvez a produção tivesse tido mais sucesso.
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