por Marcelo Seabra
Com a morte de Philip Seymour Hoffman, o mundo perdeu um grande ator, e isso fica bem claro após uma sessão de O Homem Mais Procurado (A Most Wanted Man, 2014). O longa, que está em cartaz no Brasil, será sempre lembrado como o último trabalho protagonizado por este grande artista, mas as pessoas não devem assistir a ele apenas por esta triste curiosidade. Trata-se de um ótimo thriller de espionagem, bem longe do glamour de um James Bond, que conta com uma história moderna de ninguém menos que John le Carré, o papa do gênero.
David John Moore Cornwell, mais conhecido por seu pseudônimo, John le Carré, escreveu os livros que deram origem a filmes como O Espião Que Sabia Demais (Tinker Tailor Soldier Spy, 2011), O Jardineiro Fiel (The Constant Gardener, 2005), O Alfaiate do Panamá (The Tailor of Panama, 2001) e A Casa da Rússia (The Russia House, 1990), entre outros. Mais uma vez, um texto seu se mostra totalmente apropriado para o Cinema, privilegiando o desenvolvimento dos personagens e as jogadas necessárias para que se atinja o objetivo. As coisas são muito mais burocráticas do que a ficção costuma fazer parecer, há diversos interesses envolvidos e todos querem levar a melhor.
A trama começa quando um imigrante ilegal (Grigoriy Dobrygin) chega à Alemanha e uma organização alemã de segurança começa a segui-lo para descobrir suas verdadeiras motivações. O fato de ser meio russo e meio checheno já conta contra ele, e um país que sofreu um atentado pouco antes fica em alerta com qualquer nova possibilidade. Assim, o grupo liderado por Bachmann (Seymour Hoffman, acima) dá seus pulos para investigar Karpov e as pessoas que o ajudam, como a advogada vivida por Rachel McAdams (de Questão de Tempo, 2013). Completam o elenco Willem Dafoe (de Tudo por Justiça, 2013), Robin Wright (de House of Cards), Daniel Brühl (de Rush, 2013) e Homayoun Ershadi (de A Hora Mais Escura, 2012).
Para uma história como essa, sem muita ação e com diálogos bem elaborados, o estilo do diretor Anton Corbijn casa perfeitamente. Como visto em Control (2007) e Um Homem Misterioso (The American, 2010), ele busca reflexões, filma longos trechos contemplativos que mostram claramente os demônios internos com os quais os personagens de debatem. É um mundo imperfeito, de muito cinza, onde se toma uma decisão que, espera-se, vai ajudar mais do que prejudicar. Seymour Hoffman, quase como um Brendan Gleeson mais novo, transmite cinismo e idealismo na mesma medida, como um militante que batalha por um mundo melhor usando os recursos que tem em mãos, evitando pensar em questões éticas. Na luta contra o terrorismo, diz-se, vale tudo. Uma suspeita já é suficiente para prender alguém.
Ola Marcelo,
gostei bastante to seu texto, e concordo que Philip e’ a real forca do filme. Penso, entretanto, que o conjunto se beneficiaria de uma direcao mais agil e menos passiva, algo mais em linha com Bourne (nao estou falando de acao desenfreada, mas sim de tensao policial). Nao me entenda mal: gostei bastante do trabalho de Anton, mas senti falta de uma conducao que explicitasse mais a adrenalina inerente a espioes, perseguicoes, medo. Anyway, um excelente filme e uma maravilhosa despedida para Philip.
Abraco,
gabrielcampos
Gabriel, eu acho que a graça está aí. A exemplo de O Bom Pastor, Quebra de Confiança e outros, o longa mostra que a vida do espião não necessariamente tem aquele glamour, ação e correria. É muito mais nos conchavos, telefonemas, esquemas. É mais burocrático, apesar do clímax com mais tensão.
Agradeço a visita e o comentário!
Sem duvida. Mas pessoalmente vejo mais graca em filmes que proporcionam um tantinho mais de emocao, e acho q tinha espaco. Anyway, o filme é excelente como ferramenta de reflexao. Obrigado pela resposta! Abs