por Marcelo Seabra
A partir de 2005, os fãs de Sin City começaram a aguardar ansiosos pela continuação. Tanto tempo passou que a ansiedade acabou indo junto, e parecia que esse filme nunca chegaria. Pois está em cartaz Sin City: A Dama Fatal (Sin City: A Dame to Kill For, 2014), longa que traz de volta alguns dos personagens apresentados na aventura anterior, mesmo que com atores diferentes e numa cronologia que não fica clara, já que nunca dá para estabelecer se trata-se de uma sequência ou de uma pré-continuação. Não há continuidade, apenas novas tramas com as mesmas figuras de Basin City, como acontecia há décadas em revistas, rádio e TV.
O subtítulo (mal traduzido) faz referência clara aos clássicos da literatura pulp, as histórias sempre traziam uma mulher fatal misteriosa que podia estar escondendo muito mais do que revelava. Essa pode ser a descrição de todas as personagens femininas do filme. Mas acaba caindo melhor para Ava, beldade que chegou a ter Angelina Jolie escalada e acabou no corpo de Eva Green (de 300: A Ascensão do Império, 2014). Ela é casada com um milionário e faz um jogo de sedução com o errante Dwight, agora vivido por Josh Brolin (de Refém da Paixão, 2013), que substitui Clive Owen. Essa é uma das várias pequenas histórias que se misturam, ou que apenas coexistem. São outros intérpretes, mas novamente usando uma técnica mais teatral, caricata.
Ao contrário de A Cidade do Pecado, este A Dama Fatal parece mal amarrado. Suas histórias não cruzam com naturalidade, e parecem não ter muito fôlego. Resoluções fracas e apressadas não faltam, dando a impressão de que faltou planejamento. Há imagens muito bonitas, mas as composições de claro e escuro ficam repetitivas, e o uso das cores é banalizado. Os cenários falsos, desenhados, e os contrastes entre o preto e branco dos homens e as cores berrantes das mulheres impedem o espectador de criar qualquer conexão, a sensação de estranhamento perdura pela hora e meia de exibição. Muita coisa, claro, é uma repetição do primeiro, mas era mais suave e servia a um propósito mais nobre. Os filmes seguem o caminho das revistas originais: as primeiras eram boas histórias com efeitos e artifícios elaborados, mas esses recursos logo passaram a ser o foco de Miller. O impacto inicial passou e não sobrou muita coisa.
Procurando emular o clima de mestres como Raymond Chandler ou Dashiell Hammett, Frank Miller e Robert Rodriguez passam longe, incapazes de criarem personagens perspicazes, cínicos ou mordazes. Todos os homens são burros, conclusão à qual chegamos por suas ações estúpidas e impensadas. A sensualidade, que seria a arma principal de Ava, consiste em mostrar Eva Green sem roupa. Não que alguém vá achar ruim de ver aquele belo corpo, mas o resultado fica vulgar, barato, quando deveria ser sexy e sedutor. A sensibilidade dos detetives, que no fundo são uns sentimentais, não existe, são todos uns perdedores, sem rumo, apenas esperando por uma oportunidade de se darem mal.
Os exageros, como os grandes pulos, as quedas do alto, os murros fantásticos e as muitas balas de revólver que miram e não acertam evidenciam a predominância do estilo sobre a substância. Isso, por si só, não seria um problema. Mas Miller e Rodriguez querem chocar sem conteúdo, buscam desesperadamente fazer algo escandalizante, mesmo com um material fraco. Diretores como David Fincher ou Martin Scorsese fazem esse tipo de coisa facilmente. Mas esta seria uma comparação covarde.
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