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Rainn Wilson é o menos Super possível

por Marcelo Seabra

Quando foi anunciado que James Gunn seria o diretor de Os Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy, 2014), muita gente deve ter se surpreendido. Afinal, o que este cara teria na bagagem que o credenciaria para comandar um longa do universo Marvel? Depois da estreia com o nojento e engraçado Seres Rastejantes (Slither, 2006), Gunn partiu para sua primeira empreitada ligada a super-heróis e criou Super (2010), uma espirituosa mistura de gêneros estrelada por um sujeito comum que decide combater o crime. Parece ter sido o suficiente para garantir a vaga na adaptação dos quadrinhos.

Uma mistura de farsa e drama com grandes pitadas de violência explícita, Super é um filme estranho. Melhor dizendo, diferente, ou não convencional. Também escrita por Gunn, a história nos apresenta a Frank (Rainn Wilson, da série The Office), um cozinheiro de lanchonete tirado de seu comodismo quando a esposa (Liv Tyler, de O Incrível Hulk, 2008) o deixa. Psicologicamente abalado, Frank se inspira em um herói ridículo da TV e decide vestir uma fantasia – feita por ele próprio – e partir para a luta contra o crime. Mas não espere ver uma figura pomposa e imponente: Crimson Bolt é o extremo oposto.

Não só o protagonista não tem poder algum como sua falta de jeito é incrível. Seu bordão, “Cale a boca, crime!”, é fantástico, combinando perfeitamente com o resto. E a hipotética excitação da vida de vigilante coloca uma atendente de loja de quadrinhos como ajudante de Frank. A garota (Ellen Page, de X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, 2014) se intitula Boltie e consegue ser mais desmiolada que o parceiro. Completa o elenco principal Kevin Bacon (da série The Following), como o antagonista, o traficante por quem Sarah se apaixona, o que a leva a sair de casa. E não poderiam faltar os três mais habituais colaboradores do diretor: Gregg Henry, Michael Rooker e o irmão Sean Gunn, todos em papéis menores.

Com um orçamento claramente baixo, Gunn conta uma história interessante com um personagem carismático. Chegamos até a sentir pena de Frank, um perdedor nato que mais cedo ou mais tarde perderia a linda esposa, um baque muito difícil para ele superar. As limitações físicas e intelectuais dele tornam ainda mais fácil a identificação ou, ao menos, a torcida por seu sucesso. Com animações engraçadinhas no lugar de efeitos especiais, Gunn assina um trabalho tosco, que não se define entre um tom sério e um engraçado. Mesmo com toda essa estranheza, o resultado é um estudo sensível de um ser humano comum que resolve ser algo a mais, para contribuir. E o faz sendo um bom entretenimento.

Parece que não era assim tão legal…

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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