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Godzilla é apresentado às novas gerações

por Marcelo Seabra

 

Uma das criaturas mais famosas do Cinema, Godzilla (2014) ganha vida nova e dá às gerações mais jovens uma oportunidade de conhecê-lo. Já está em cartaz essa versão moderna e rica, com um orçamento que permitiu um largo uso de efeitos especiais e a contratação de alguns nomes famosos para o elenco. O resultado, para aqueles que estão preocupados, é bem superior à bomba de 1998, última tentativa norte-americana de reviver o personagem. Não que isso signifique muita coisa.

Com apenas um longa na bagagem como diretor (Monstros, 2010), Gareth Edwards pôde empregar sua experiência como técnico de efeitos para dar vida às criaturas da famosa produtora japonesa Toho. Mas a ideia aqui, levemente inspirada no novo clássico Tubarão (Jaws, 1975), é desenvolver os personagens e a trama ao máximo, para só depois revelar a atração principal. O lagartão demora um pouco a aparecer, e chegamos até a conhecer antes os “vilões”, outras duas criaturas esquisitas que parecem unidas contra a humanidade. A origem das três não fica muito clara, mas as possibilidades são expostas.

 

Com belas imagens e uma mensagem de fundo sobre a arrogância do homem frente à natureza, o filme teria tudo para ser bom. Mas o roteiro, escrito por Max Borenstein (com história de David Callaham, de Os Mercenários, 2011), cai em várias armadilhas que tornam a sessão um tanto cansativa e aborrecida. O comportamento dos monstros, por exemplo, é ditado pela necessidade dos roteiristas, é tudo muito conveniente. Não há regras estabelecidas, o que permite que qualquer coisa possa acontecer. Os diálogos, de uma forma geral, são fracos e expositivos, e alguns chegam a constranger pelo didatismo e clichês. E o principal problema é o mesmo cometido por Zack Snyder em seu O Homem de Aço (Man of Steel, 2013): repetidas lutas que não vão dar em nada entre seres praticamente indestrutíveis e a destruição generalizada das cidades por onde eles passam.

As mulheres da trama não servem para nada e duas grandes atrizes são desperdiçadas, Juliette Binoche (de Cosmópolis, 2012) e Sally Hawkins (de Blue Jasmine, 2013). O destaque do elenco, Bryan Cranston, também não tem uma participação que pode ser descrita como marcante. O ator, que se aposentou de Breaking Bad recentemente, vem fazendo cada vez mais trabalhos para a tela grande e precisa urgentemente acertar a mão. Ele ainda não encontrou um papel à altura de seu talento. A vaga de protagonista fica com Aaron Taylor-Johnson, que já viveu John Lennon e Kick-Ass e agora é esperado como o velocista Mercúrio de Os Vingadores 2. Com porte e corte de militar, o ator vive um onipresente tenente do esquadrão anti-bombas e tenta dar a ele alguma profundidade dramática. A esposa, vivida por Elizabeth Olsen (de Poder Paranormal, 2012), é outra mulher que não apita nada. Curiosamente, Olsen será a irmã de Mercúrio em Vingadores 2, a Feiticeira Escarlate. Também aproveitam para ganhar um dinheirinho Ken Watanabe (de A Origem, 2010) e David Strathairn (de Lincoln, 2012).

Com pouco mais de duas horas de duração, Godzilla consegue ter bons momentos. Mas eles são raros e espaçados. A fotografia de Seamus McGarvey (de Os Vingadores, 2012) é responsável por algumas cenas bem bonitas. Já a trilha de Alexandre Desplat (de Caçadores de Obras-Primas, 2014) parece estar tendo convulsões, com notas soltas que causam estranhamento. A distância entre estes dois elementos, trilha e fotografia, ilustra bem o resultado do longa: algumas coisas funcionam, outras muitas não, e o resultado pende para uma intensa vontade de dormir.

Pai e filho unidos contra os monstros

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

View Comments

  • Adorei a critica do filme.
    Um filme com um ótimo elenco, mas que foi desperdiçado em um enredo fraco, que não passou de uma tentativa de reconstituição do famoso Mothra VS Godzilla.
    Faltou foco nas lutas dos monstros … já que a historia estava sem sentido mesmo, pelo menos eu queria ver a pancadaria dos monstros, o que não aconteceu ou quando acontecia algo, estava tão escuro nas cenas que não dava pra ver quem bateu ou quem apanhou.
    Alem de uma trilha sonora de suspense exagerada, que parecia mais um filme de terror...
    Droga joguei dinheiro fora indo ao cinema!!! Decepção! Mataram a minha criança interior nesse filme!!!
    Desculpem a todos, mas eu precisava desabafar, tinha criado muitas expectativas sobre o filme.

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