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Premissa louca marca Toque de Mestre

por Marcelo Seabra

Muitos filmes partem de uma ótima premissa e se perdem no meio do caminho. Um caso interessante é o de Toque de Mestre (Grand Piano, 2013), longa que tem um ponto de partida sem pé nem cabeça, que não chega perto de se sustentar, mas até consegue divertir ao longo de sua curta projeção. Em meros 80 minutos, o diretor espanhol Eugenio Mira consegue colocar o público no meio de um concerto de piano do qual o pianista escapa sem ninguém estranhar enquanto um psicopata o mantém sob a mira de um rifle.

Elijah Wood, mais conhecido como o hobbit Frodo, da saga O Senhor dos Anéis, vive Tom Selznick, um pianista que volta aos palcos depois de um intervalo de cinco anos, quando teve um ataque de ansiedade (ou algo assim, não é lá muito importante) e interrompeu um concerto. Ele decide se apresentar para homenagear o antigo mentor, falecido recentemente. Sua esposa, a famosa atriz Emma Selznick (Kerry Bishé, de Argo, 2012), ajudou a preparar tudo e está na platéia, orgulhosa.

O problema de Tom começa quando ele abre a partitura, já com a orquestra tocando, e lê recados estranhos e alarmantes: se ele errar uma nota, sua esposa morre. Um maluco está armado, em algum lugar do teatro, e Tom recebe as instruções através de um fone deixado para ele. John Cusack (de O Corvo, 2012) usa sua voz friamente para fazer a tensão crescer, algo como visto em Por um Fio (Phone Booth, 2002). Mas os motivos do maluco são bem diferentes e o resultado alcançado, também. O assistente dele, vale ressaltar, é o sumido Alex Winter, ninguém menos que Bill S. Preston, um dos loucos viajantes do tempo de Bill e Ted (1989 e 1991).

Um plano mirabolante, para não dizer estúpido, é o que dará início a toda essa bobagem. Por mais que um momento ou outro sejam interessantes, é difícil não lembrar, constantemente, de onde partiu tudo. Mira não é nenhum virtuoso da direção, e o roteiro de Damien Chazelle (de O Último Exorcismo – Parte II, 2013) é o grande culpado. Para uma duração tão curta, ele pensou que deveria explicar tudo nos diálogos, até o que não precisava de explicação. Muita coisa é mencionada por alto, e ficamos com o que o filme oferece – o que geralmente não é suficiente. O ponto alto da comédia que o suspense acaba virando é quando o assassino afirma que vem preparando esse plano há três anos. Pense, ao assistir, se isso faz algum sentido.

Tanto Wood quanto Cusack fizeram produções mais sombrias há pouco. Wood foi o psicopata-título de Maniac (2012), um longa estranho que tem como único mérito emular o clima das produções dos anos oitenta. Cusack também foi um maníaco, este baseado numa figura real, em O Assassino do Alaska (The Frozen Ground, 2013), filme capenga estrelado por Nicolas Cage que atingiu pouca gente. Toque de Mestre pode ser uma certa insistência nesse caminho, com os atores procurando por temas menos convencionais. Muito bonito que tentem, mas não foi dessa vez que chegaram a algum lugar.

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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