por Marcelo Seabra
Naomi Watts já mostrou diversas vezes ser uma boa atriz. Oliver Hirschbiegel comandou ao menos dois grandes filmes: A Experiência (2001) e A Queda (2004). No entanto, a união destes dois resultou em Diana (2013), uma cinebiografia burocrática e preguiçosa da princesa de Gales famosa por seu trabalho humanitário, sua vida tumultuada e sua morte repentina. Watts faz o possível, mas o roteiro não ajuda, os diálogos são terríveis e, convenhamos, Diana não era santa. Ser humano nenhum é, não importa se é da família real ou se morreu tragicamente.
Baseado no livro Diana – Her Last Love, de Kate Snell, o roteiro de Stephen Jeffreys (de O Libertino, 2004) apresenta um período de dois anos na vida de Diana, quando ainda era um pouco misteriosa a situação romântica dela. Separada de Charles, mas não divorciada, era vítima de chacota por todos saberem da existência da amante do príncipe. Em determinado momento, ela conhece um médico paquistanês e magicamente se apaixona. Afinal, ele cura as pessoas, e isso é suficiente. Podemos suspeitar que isso tenha ocorrido de outra forma, mas é o que o filme mostra.
Os pombinhos sempre terão problemas pelo nível de exposição da vida de Diana, seguida o tempo todo por fotógrafos. Hasnat Khan (vivido por Naveen Andrews, de Lost) preza sua privacidade e precisa dela para fazer um bom trabalho em suas cirurgias. Quem tem uma mínima noção do que houve sabe que, quando do acidente, Diana estava acompanhada pelo milionário Dodi Fayed. Logo, a curiosidade aqui é saber quem é Khan, como os dois se apaixonaram e o que aconteceu que os separou. Ou seja: nem depois de morta, Diana é deixada em paz por quem gosta de uma fofoca e de dar uma espiada na vida alheia. E o pior: o filme não traz nada de novo, nenhuma revelação bombástica ou observação mais aguçada sobre a personagem.
Tirando as duas vítimas do acidente, todos os demais envolvidos estão vivos, lista que inclui Khan, Charles e os filhos de Diana, William e Harry. Talvez por isso, o filme mantenha sempre um tom respeitoso sobre a figura apresentada. E é exatamente aí que mora o problema do longa de Hirschbiegel: a covardia de apresentar uma pessoa com dois lados, crível, ao invés da mocinha apaixonada e perfeita que vemos. Watts domina até os trejeitos da princesa, guardando enorme tristeza nos olhos, mesmo quando tudo parecia bem. Mas o roteiro teima em colocá-la como coitadinha, ignorando toda a profundidade de uma personalidade pública que parecia ser tão rica em nuances, contradições e conflitos internos.
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