por Marcelo Seabra
Depois de chamar a atenção com o ótimo Coração Louco (Crazy Heart, 2009), o diretor e roteirista Scott Cooper ficou em uma situação confortável, podendo escolher as circunstâncias de seu novo projeto. Com grandes nomes no elenco, ele filmou Tudo Por Justiça (Out of the Furnace, 2013), um drama bem cru e violento sobre trabalhadores de uma área operária envolvidos com o crime em uma cidadezinha americana. Pena o resultado não ser dos mais animadores, o que chega a ser um crime, visto os talentos envolvidos.
Vingança é o objetivo a ser atingido em vários filmes, e aqui não é diferente. Christian Bale está cada vez mais especializado em viver personagens tipicamente americanos, como Bruce Wayne, da trilogia Batman, e Patrick Bateman, de Psicopata Americano (2000). Ele interpreta mais uma figura simbólica, um sujeito correto e esforçado que acaba preso por um homicídio culposo. Quando sai da cadeia, sua vida está do avesso e sua família, despedaçada. Só lhe sobrou seu irmão, um perturbado ex-combatente de guerra (o competente Casey Affleck, de O Assassino em Mim, 2010). E é exatamente esse irmão que fará o protagonista buscar vingança contra um criminoso da região (Woody Harrelson, visto na TV em True Detective).
Desde o início, Cooper e seu co-roteirista, o estreante Brad Ingelsby, parecem preocupados em definir seus personagens, o que funciona muito bem. Logo, sabemos quem é quem, mesmo que não fosse necessária tanta ênfase. Harrelson é o primeiro a ganhar destaque, sendo estabelecido de cara como um espécime da pior espécie, daqueles psicopatas que achamos que vão durar na memória. Bale, em seguida, é o herói com pés no chão, com falhas, mas com muito caráter. Affleck é o perdido, o soldado traumatizado que evita a todo custo seguir o destino operário do pai e do irmão. Há ainda Zoe Saldana (da equipe de Star Trek), que faz a namorada em conflito, enquanto Sam Shepard (de Amor Bandido, 2012) vive o tio bacana e Willem Dafoe (de Ninfomaníaca, 2013) é um escroque bonzinho. Forest Whitaker (de O Último Desafio, 2013), coitado, mais uma vez erra no tom – literalmente, com uma voz muito esquisita.
O clima é bem estabelecido, os personagens são críveis, as atuações são muito boas. Mas certos fatos em Tudo Por Justiça não encaixam. Algumas situações, e coincidências, não funcionam e jogam tudo no buraco – o que acontece com um celular é um exemplo. O resultado não é ruim, mas também não é bom, ficando naquela zona desconfortável do “nem aí”. Muito desperdício e Cooper passa longe de assinar um novo clássico, como parece ser a ideia aqui, e não falta uma referência a O Franco Atirador (The Deer Hunter, 1978). É apenas uma história de vingança que não consegue decolar, apesar de muita coisa a favor.