Winslet e Brolin são Reféns da Paixão

por Marcelo Seabra

Depois de quatro longas que tinham em comum um senso de humor crítico, cínico e inteligente, Jason Reitman (de Jovens Adultos, 2012) se tornou um diretor a se acompanhar. Por algum motivo incompreensível, ele decidiu partir para um drama e mostrar um lado mais sensível em Reféns da Paixão (Labor Day, 2014). Com personagens sofridos e injustiçados numa situação bem forçada e inverossímil, Reitman parece ter cometido seu primeiro pecado, mostrando que nenhuma carreira cinematográfica é perfeita.

Adaptando um romance de Joyce Maynard, autora que também deu origem a Um Sonho Sem Limites, de 1995, Reitman nos apresenta a Henry (Gattlin Griffith, de Lanterna Verde, 2011), um garoto que acompanha a interminável crise psicológica da mãe, Adele (Kate Winslet, de Contágio, 2011), uma mulher deprimida e com ataques de pânico. Deixada pelo marido (Clark Gregg, da série Agents of S.H.I.E.L.D.) há algum tempo, ela mal sai de casa e se dedica exclusivamente ao filho, que tenta ser um companheiro ideal para ela. Num dos raros dias em que Adele se aventura a sair de casa para fazer compras, ela e o garoto são coagidos por um desconhecido a levá-lo para casa. Eles logo descobrem que Frank (Josh Brolin, de Caça aos Gângsteres, 2013) está foragido e é tido como perigoso, com fotos em todos os canais de televisão.

O clima de desconfiança rapidamente dá lugar a uma ilusão de família, quando mãe e filho passam a descobrir todos os talentos do fugitivo, de consertar o carro a fazer torta de pêssego. Resumindo: o sujeito é um perfeito cavalheiro, de habilidades mil, desses que toda mulher sonha conhecer e que todo garoto iria querer como pai. Basicamente, alguém que não existe. A tensão de uma possível descoberta existe, mas ela quase não é percebida naquele feriado prolongado do Dia do Trabalho – daí o título original.

É louvável que Reitman tenha decidido se arriscar em terreno inédito para ele, mas isso não significa que ele tenha sido bem sucedido. Reféns da Paixão até tem um ponto positivo, e ele responde por Kate Winslet. A atriz consegue transmitir emoções e pensamentos com o olhar, e sua mudança gradual é bem construída. Brolin não tem a mesma sorte, mesmo sendo um bom ator. Seu personagem é raso, chato, saído de um folhetim de banca de revistas, e não lhe dá possibilidades de crescer. Até o ex-marido tem mais profundidade, vivendo uma culpa constante por não ter sido capaz de permanecer ao lado da esposa e ter acabado se distanciando do filho. O elenco ainda tem duas participações que o público vai reconhecer da trilogia do Homem-Aranha: Tobey Maguire, que narra a história, e JK Simmons, que vive um vizinho prestativo. Ah, alguém se lembra de Dawson’s Creek? Repare no policial.

Açucarado do início ao fim, Reféns da Paixão poderia ter funcionado melhor nas mãos de alguém mais acostumado com esse gênero. Ou não, já que o material original de Maynard não parece ser grande coisa. Se seguir nessa ideia de inovar, Reitman deveria tentar um suspense, ou quem sabe um faroeste. Mas o seu forte segue sendo as comédias ácidas, que ele já fez tão bem e às quais pode eventualmente voltar.

A escritora Maynard ensina Brolin a fazer torta

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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