por Marcelo Seabra
Com o filme completo, agora sim é possível analisá-lo. Com a estreia de Ninfomaníaca: Volume 2 (Nymphomaniac: Vol. II, 2013), o novo trabalho de Lars Von Trier tem começo, meio e fim e são nada menos que quatro horas das aventuras sexuais de Joe (Charlotte Gainsbourg). Entendemos finalmente como ela chegou ao encontro com Seligman (Stellan Skarsgård) e descobrimos como isso vai terminar. E ainda é difícil acreditar como um filme (ou dois) tão cansativo e repetitivo como este fez tanto barulho.
Uma constatação é triste, mas clara: o pior do Volume 1 está de volta, enquanto os (ou “o”) pontos positivos não aparecem. O sexo vazio e desenfreado, os closes desnecessários em órgãos genitais, as discussões pretensiosas… Tudo lá! Enquanto isso, nem sinal da personagem de Uma Thurman, que não tinha mesmo porquê aparecer. Stacy Martin dá lugar a Gainsbourg, já que a Joe mais velha aparece mais e acompanhamos suas desventuras mais obscuras. A garota envereda por uma vida arriscada, com gente perigosa, se jogando de cara por não se julgar muita coisa. Quando há pouco a arriscar, não tem problema. O vício em sexo faz com que ela se julgue uma má pessoa e isso facilita suas decisões erradas e as consequências.
Cada vez mais irresponsável, Joe estraga relacionamentos e chega até a negligenciar um filho. Na segunda metade do longa, uma presença se torna importante: a menina marginalizada (Mia Goth) com quem Joe começa uma amizade interesseira e toma rumos bem estranhos. Assim como Martin, Goth também é estreante, e não decepciona. O elenco, de uma forma geral, faz a sua parte, apesar de ficar a sensação de que Skarsgård, com seu talento e fama, não precisava descer tanto. Jamie Bell (acima), lembrado como o dançarino Billy Elliot (2000), aproveita a oportunidade para mostrar que cresceu, num papel sádico e um tanto enigmático. Willem Dafoe, sempre um artista que gera expectativa, mal mostra a cara, o que não deixa de ser outra decepção.
O diretor pode até camuflar uma ou duas boas ideias, mas sua necessidade de chocar e apelar é difícil de entender e irritante de assistir. Talvez uns garotos que vão tentar ir ao cinema e conseguir assistir a estes filmes possam achar emocionante ver nudez e sexo, e nem vão se importar com os trechos supostamente mais densos. E os adultos vão ver mais do mesmo, nada que cause qualquer reação mais forte. Alguma discussão até pode surgir após uma sessão de Ninfomaníaca (qualquer dos dois), principalmente acerca do feminismo que Von Trier acaba valorizando. Mas é mais provável que essa discussão gire em torno do que você e amigos vão comer a seguir.
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