por Marcelo Seabra
Ser estranho não faz um filme ser necessariamente ruim. Pelo contrário: os irmãos Coen sabem como poucos como construir um universo à parte, com personagens inusitados e um clima melancólico. À primeira vista, eles fazem filmes estranhos. Olhando bem, percebe-se um talento enorme para observar o comportamento humano e criar situações interessantes. Em Inside Llewyn Davis – Balada de Um Homem Comum (2013), Joel e Ethan acompanham um sujeito por uma semana e mostram a riqueza de uma rotina sem maiores eventos.
Da mesma forma que acontece com jogadores de futebol, para cada cantor que consegue atingir fama e prosperidade há diversos que não chegam a lugar algum. Inspirado em Dave Van Ronk (mais no estilo musical que na personalidade), Llewyn Davis é um compositor, cantor e instrumentista que se apresenta pelos bares do Greenwich Village ganhando a vida um dia de cada vez nos idos dos anos 60, quando todo mundo conhecia vários artistas, que podiam ser vistos em cada esquina. A câmera acompanha Llewyn de perto, com muita honestidade, mostrando seus aspectos positivos e negativos. Sem nunca saber onde vai dormir, ele luta para viver de música e não ter que se entregar a um emprego regular qualquer, o que certamente o mataria de desgosto. Sua falta de habilidade social, misturada a princípios bem definidos que não podem ser dobrados, faz de Llewyn uma pessoa difícil de se conviver. Por isso, volta e meia ele tem um desentendimento com amigos e conhecidos e fica cada vez mais complicado sobreviver nesse cenário.
Com cores apagadas e um frio que assombra os personagens, a Nova York do filme parece um lugar desolador, bem o contrário do que costuma-se falar de lá, principalmente nesse momento histórico de grande agitação cultural. A bela fotografia de Bruno Delbonnel (de Sombras da Noite, 2012) ressalta a importância da cidade para a história e ajuda a criar no público as sensações experimentadas pelos personagens, como a claustrofobia causada pelos apartamentos apertados e pelos corredores exageradamente estreitos. Como brinde, ainda temos ótimas composições folk produzidas por Marcus Mumford (da banda Mumford & Sons) e T Bone Burnett (de True Detective).
Puxando o elenco, o ator e músico Oscar Isaac consegue a proeza de viver um protagonista irritante e temperamental e ainda fazer o público simpatizar por ele. Apesar de seus erros e chiliques, ele é batalhador e busca sua grande chance. Isaac já havia vivido um cantor em 10 Anos de Pura Amizade (10 Years, 2011) e o faz sempre com muita naturalidade, como quem conhece aquela vida. Outro que mantém atividade dupla e está em casa com um violão nas mãos é Justin Timberlake, celebridade que vem aparecendo cada vez mais nas telas, recentemente visto em Curvas da Vida (Trouble With the Curve, 2012) e Aposta Máxima (Runner, Runner, 2013). Carey Mulligan, que fez barulho quando cantou o tema de New York, New York em Shame (2011), também encara um microfone, fechando um triângulo amoroso com os dois rapazes. Gente bacana para os demais papéis não falta, e temos nomes como John Goodman, F. Murray Abraham e Garrett Hedlund, além de um gato que rouba cenas e tem muita presença.
Dentro da filmografia dos irmãos Coen tem de tudo. Eles pulam de um gênero para outro com muita facilidade e as bolas fora são raras (Matadores de Velhinha, alguém?). Inside Llewyn Davis é um filme menor no que diz respeito às dimensões do projeto e à expectativa gerada. Mas não no que toca sua qualidade – não é a toa que ele recebeu diversas indicações a prêmios e foi o escolhido pelo júri em Cannes. A circularidade da história reforça o quanto a vida de Llewyn é pacata e rotineira. Bob Dylans eram raros, ao contrário de Llewyn Davises.
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Gosto bastante do filme, acho o roteiro e direção primorosos. Mas ainda assim faltou "aquilo" para ser uma obra primorosa.