por Marcelo Seabra
Sem precisar ir muito longe, como as inventivas ficções científicas dos anos 80 e 90, Ela (Her, 2013) propõe questões interessantes acerca do futuro relacionamento entre humanos e suas criações tecnológicas. Seria possível um homem se apaixonar por uma personalidade feminina projetada para atendê-lo, e ainda por cima sem um corpo físico? Seria sempre um namoro à distância, já que os pombinhos não se encontram nunca? Só desenvolvem a relação com muito diálogo. Spike Jonze, apenas em seu quarto longa de ficção, chega mais longe que muito veterano por aí.
Sempre interessado nas relações humanas, o roteirista e diretor Jonze criou um sujeito solitário e ligeiramente amargurado pelo fim de seu casamento. Esse protagonista introspectivo, que trabalha criando belas mensagens para desconhecidos, tem acesso a um novo sistema operacional que organiza seus arquivos e e-mails, se atualiza sozinho e é configurado para o que você preferir. No caso de Theo (Joaquin Phoenix), é criada uma mulher extremamente espirituosa, inteligente e companheira. Logo, ele se vê dizendo ter uma namorada, que não passa de um software com uma voz. Uma com muita sensualidade e emoção, mas apenas uma voz.
Além do roteiro e da direção, um grande trunfo de Ela é o elenco. O casal principal apresenta uma química fantástica mesmo sem que possamos ver a garota em momento algum. Mas isso não diminui a presença em cena de Scarlett Johansson, que domina seus diálogos e faz o público imaginar uma mulher linda, o que de fato ela é. Para Theo, a beleza não importa, ele quer apenas uma companheira, alguém para trocar ideias e afastar a solidão e os pensamentos negativos. Samantha, mesmo sendo virtual, consegue cumprir essa função, mas aí vem a vida e estraga tudo. Como em qualquer relacionamento, chegam brigas, crises, ciúmes. Afinal, a grande graça da novidade tecnológica que é este sistema operacional é emular um ser humano, e isto traria também defeitos. Eu não conheço ninguém perfeito. E ele ainda tem os diferenciais que vêm com a condição de ser virtual.
Além de Johansson, as outras mulheres na vida do Theo do ótimo Phoenix, em mais um grande papel, são vividas por Rooney Mara e Amy Adams (acima), como a ex-mulher e a vizinha, respectivamente. Enquanto uma é ressentida, provavelmente afastada pelo comportamento do ex-marido, a outra é ótima, mas talvez por não ter se aproximado muito. Ambas são inacessíveis, ao contrário de Samantha, que está sempre por perto. Há, também, a linda Olivia Wilde, mas essa só procura sua própria satisfação, já que se considera velha o suficiente para procurar exclusivamente por um marido e pai.
Ao contrário do que dizem as pessoas que têm vários parceiros, este sim é um relacionamento moderno. Não tem como ser mais. E não é por ser seu que vai permanecer seu. É um sistema operacional com vontade própria, e com destino próprio. O que ele (ou ela) fará é uma incógnita, mas sabemos que as possibilidades são infinitas. E como fica Theo nessa história? O humano é a parte sensível, que vai sofrer, previsivelmente. E nos faz pensar na natureza dos relacionamentos, nos pares com nada a ver que vemos aí, nas pessoas que insistem em ficar juntas mesmo sem ter um mínimo gosto em comum. Ou naqueles que acham que o outro sempre estará a postos, com a resposta na ponta da língua que ele precisa ouvir. Ou, pior ainda, naqueles que acham que podem mudar o outro. Programou daquele jeito, nada permitirá uma mudança. Mais ou menos o que acontece com os humanos, que parecem destinados a sofrerem.
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