True Detective é uma das grandes apostas do ano na TV

por Rodrigo Seabra

Nem foi preciso avançar muito em 2014 para testemunharmos a primeira grande estreia do ano nas séries de TV. True Detective, produção da HBO, traz os nomões do Cinema Woody Harrelson e Matthew McConaughey, amigos de longa data na vida real, como detetives da polícia no estado norte-americano da Louisiana investigando seu primeiro caso juntos, em 1995. Só que parte da ação também se passa em 2012, quando Marty Hart (Harrelson) e Rust Cohle (McConaughey) são chamados separadamente por seus colegas policiais para depor a respeito de outro caso que pode estar relacionado àquele primeiro.

Com isso, temos, ao mesmo tempo, um cuidadoso estudo de personagens e uma trama duplamente misteriosa. Grande parte da lenta narrativa é voltada para conhecermos quem são aqueles dois parceiros, como funcionam suas mentes e seus métodos, como se estabeleceu seu relacionamento, quais são suas histórias de vida, como travaram seus diálogos e o quão confiáveis são suas lembranças um do outro. Os recém-apresentados são ambos durões e distantes, mas logo descobrem que têm personalidades bastante diferentes e, claro, não demoram a se estranhar. Hart se julga um exemplar homem de família que na realidade é um grande hipócrita, ao passo em que Cohle é amargurado, frio e abraçou um lado negro que Hart quer ver longe de si a todo custo. Enquanto isso, vamos junto com eles reunindo pistas para entender como aconteceu o brutal assassinato da jovem prostituta e por que exatamente eles foram chamados para conversar com a polícia dezessete anos depois.

Com apenas dois episódios exibidos até o momento, a série ainda não deixa ver exatamente se seus oito episódios serão dignos de tanta espera, mas é certo que a antecipação é justificada. Trata-se de uma aposta grande da premiadíssima e sempre competente HBO, que já nos legou tantos seriados e telefilmes de qualidade indiscutível. É claro também que os protagonistas atraíram muita curiosidade para o projeto desde o primeiro momento. Fora eles, provavelmente nenhum outro nome chama tanto a atenção, seja dos coadjuvantes (Kevin Dunn, Michelle Monaghan e Alexandra Daddario, entre outros), do roteirista e showrunner Nic Pizzolatto ou do diretor Cary Fukunaga, os dois últimos também atuando como produtores e a cargo dos roteiros e direção de toda a primeira temporada.

O que já foi visto deixa transparecer uma realização de primeira categoria. Em ótima forma, Harrelson retorna à TV, onde apareceu quase trinta anos atrás na clássica comédia Cheers, enquanto McConaughey segue sem trégua em sua recente escalada assustadora rumo à imortalidade de Hollywood, depois de estrelar muita besteira e agora escolhendo papéis bem mais fortes e adultos, e angariando prêmios com suas excelentes atuações. Ele inclusive ainda está magro como visto em Dallas Buyers Club. Contribuem para o esforço dos dois um grande trabalho de maquiagem, cabelo e figurino, que não tem como passar despercebido, e uma fotografia belíssima, muito bem cuidada, que serve como um personagem à parte, mostrando tão bem a pasmaceira amarelada que cerca os detetives, em contraste com os cenários frios da(s) delegacia(s).

True Detective é uma antologia, ou seja, prepare-se para se despedir de Hart e Cohle ao final desses oito episódios, uma vez que a segunda temporada deverá ser uma história completamente diferente dentro da mesma premissa, nos moldes do que vemos atualmente em American Horror Story. A recepção, até o momento, foi excelente, tanto por parte da crítica especializada quanto do público que se manifesta em fóruns de discussão. Aliás, a audiência da estreia, no último dia 12, foi a melhor abertura da HBO desde Boardwalk Empire, em 2010. No Brasil, a nova série vem sendo exibida rigorosamente ao mesmo tempo em que na HBO americana, o que cai para nós na meia-noite de domingo para segunda. A iniciativa é muito louvável, mas pode ficar um pouco tarde para muita gente. Se for o seu caso, não se preocupe: logo na segunda à noite, temos uma reprise em horário mais aprazível, às 22h.

Amigos de anos se encontram na telinha

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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