por Marcelo Seabra
O dramaturgo Tracy Letts já havia adaptado duas de suas peças para o Cinema, que deram nos ótimos Killer Joe (2011) e Possuídos (Bug, 2006). Agora, ele é o responsável pelo roteiro deste Álbum de Família (nenhuma ligação com Nelson Rodrigues), versão para a peça de 2008 ganhadora dos prêmios Pulitzer e Tony. A ambientação de palco permanece, ganhando apenas alguns cenários a mais. A maior parte da trama se passa dentro da casa da família, numa reunião que é causada pelo sumiço do patriarca (Sam Shepard, de O Homem da Máfia, 2012). As três filhas, com os respectivos agregados, vêm ao encontro da mãe, a dopada Violet (Meryl Streep, de olho em mais estatuetas), para confortá-la.
Como não poderia deixar de ser, cada membro da família tem uma personalidade diferente, e embates serão inevitáveis. Barbara (Julia Roberts, de Espelho, Espelho Meu, 2012) leva o marido (Ewan McGregor, de O Impossível, 2012) e a filha (Abigail Breslin, de Zumbilândia, 2009). Karen (Juliette Lewis, da série A Firma) apresenta o noivo recente, o playboy Steve (Dermot Mulroney, de Jobs, 2013). A terceira filha, Ivy (Julianne Nicholson, da série Masters of Sex), é a única que não se mudou para longe, e cuida dos pais. A irmã de Violet, Mattie Fae (Margo Martindale, de Justified), vem se meter e traz o marido (Chris Cooper, de Sem Proteção, 2012) e o coitado do filho (Benedict Cumberbatch, o Sherlock da BBC). Todos esses nomes são reunidos num pesadelo familiar que acaba se estendendo ao espectador, e o mais interessante é ver Cumberbatch no papel de um perdedor ridicularizado pela própria mãe, fugindo dos tipos espertos aos quais já nos acostumamos a vê-lo fazer (acima).
Pelo título original, fica a impressão de que, a cada mês, o drama de uma família seria apresentado, seguindo as cidadezinhas de Oklahoma, como naqueles programas ruins de televisão que expõem situações particulares. Não faltam belas paisagens das planícies do meio-oeste americano, daquelas estradas poerentas e lagos inesperados. Mas sobra atuação – no mau sentido, com principalmente Streep e Roberts se esforçando para uma lembrança da Academia, além de umas discussões e revelações que caberiam melhor numa produção mexicana. John Wells, que dirigiu o correto A Grande Virada (The Company Men, 2010), aqui pesa a mão e erra a dose. Ao menos a Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood caiu na armadilha, já que as duas atrizes de fato foram indicadas aos Globos de Ouro. Aguardemos o anúncio do Oscar.
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