por Marcelo Seabra
Apontado como o ator mais popular da Argentina já há alguns anos, Ricardo Darín vem mantendo uma média de dois filmes por ano, a maioria com muitas qualidades. Este ano, seu faro o levou à adaptação do livro Tese Sobre um Homicídio (Tesis Sobre un Homicídio), do jornalista Diego Paszkowski, e o longa acaba de chegar aos cinemas. Em meio a tantos filmes policiais convencionais, ele foge de fórmulas e do que vemos com frequência, já que tem um ritmo mais lento e propõe uma interessante discussão sobre leis e justiça. Pena que não se aprofunde no tema, preferindo focar no jogo de gato e rato.
Darín vive um professor de direito jovem para estar aposentado, mas é nesta condição que se encontra. Não descobrimos muito sobre sua personalidade, apenas recebemos migalhas ocasionais. Ele vai muito a um ginásio de boxe treinar, não perde uma oportunidade de se dar bem com belas alunas e parece ser bem vaidoso, não só quanto à aparência, mas também quanto ao reconhecimento de seus pares e do público em geral. Quando conhece um aluno que lembra ele próprio, muito auto-confiante e marcante, algo chama sua atenção. Gonzalo (Alberto Ammann, de Lope, 2010) é filho de um velho amigo e há muito não se viam. Rapidamente, a forte impressão deixada pelo rapaz é substituída por uma suspeita habilmente construída: seria ele um assassino?
A exemplo de um suspense de Hitchcock, detalhes fazem o professor ter essa desconfiança. Uma garota é morta perto do campus e, por algum motivo, ele se envolve na investigação. Para funcionar, o roteiro de Patricio Vega força certas situações que deixam até o espectador mais desavisado descrente. Detalhes são muito importantes, como o professor não se cansa de reafirmar, mas uma mente que tende a conspirações dará importância a qualquer coisa. Como em Festim Diabólico (Rope, 1948), testemunhamos um duelo de inteligências, ou ao menos um amontoado de suposições. Ammann mantém sempre feições amáveis que podem muito bem esconder um psicopata, mas não é páreo para a performance forte de Darín, que faz muito com pouco e ocupa todo o quadro.
A direção de Hernán Goldfrid parece ter boa intenção, se é que existe isso. Ele cria tensão com facilidade, usa bem ambientes fechados e escuros e leva o tempo que julga necessário para o desenvolvimento da trama. Alguns vícios, como ressaltar o estado de embriaguez com a imagem embaçada, podem ser relevados. Mas a base da construção não ajuda, as amarras do texto são frágeis e a ambiguidade final só piora o efeito. Fica a sensação de uma bela tentativa que errou o alvo. Podemos, no entanto, continuar acompanhando-o e ver no que dá.
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