por Marcelo Seabra
O longa começa a ser descoberto principalmente por ser um dos primeiros trabalhos de maior relevância do hoje astro Michael Fassbender, o Magneto de X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011). E 2008 foi também o ano de Hunger, primeiro cartão de visitas do ator. Além dele, trata-se da estreia do diretor e roteirista James Watkins no comando de um longa. Seu A Mulher de Preto (The Woman in Black, 2012), também disponível nas locadoras, recebeu algumas boas críticas. A ascensão costuma dar novo fôlego a trabalhos anteriores, e é o que acontece com Sem Saída.
Logo de cara, somos apresentados a um simpático casal, Steve (Fassbender) e Jenny (Kelly Reilly, a esposa do “caro” Dr. Watson da franquia de Sherlock). No fim de um dia de trabalho, eles se preparam para passar o fim de semana à beira de um lago que está em vias de deixar de existir. A região será inundada e parece ser a última oportunidade de Steve para apresentar o lago a Jenny. Perto, percebemos que a população do vilarejo não é muito receptiva, cada um cuidando de sua vida e ponto. Já no lago, conhecemos um grupo de jovens baderneiros que se sentem muito à vontade no lugar.
Incomodado, Steve vai tirar satisfação com os moleques e é desrespeitado. Fica claro que boa coisa não vai sair dali e o casal começa a ter diversos problemas. Quando Steve concorda que é melhor ir embora e deixar para lá, é tarde demais. Até aí, notamos semelhanças temáticas com filmes como os cults Amargo Pesadelo (Deliverance, 1972) e Sob o Domínio do Medo (Straw Dogs, 1971) e com o péssimo Doce Vingança (I Spit on Your Grave, 2010). Todos abordam as diferenças entre a população de uma cidadezinha, tida como mais rude e perigosa, e protagonistas urbanos, que têm que aprender a se virar em ambiente hostil.
Dois elementos fundamentais marcam Sem Saída. A violência vista parece bem real e é funcional, serve bem à história – ao contrário do que geralmente acontece em slashers, quando um punhado de linhas é escrito apenas para justificar a carnificina sem sentido. O outro ponto importante é o fato de, a partir de certo momento, conhecermos um pouco melhor aqueles “caipiras” juvenis e suas origens.
Fala-se muito em Bullying e os motivos e causas têm sido discutidos em diversos espaços e veículos. Watkins mostra estar por dentro das polêmicas atuais e aproveita para dar um pouco mais de conteúdo a sua obra. Trazer bons atores só ajuda, e ele ainda deixa claro o seu talento para convocar aspirantes a grandes nomes, caso de Fassbender e Reilly. Em A Mulher de Preto, ele conta com uma figura já estabelecida, Daniel Radcliffe, e seu desafio é desassociá-lo de seu personagem mais famoso, Harry Potter. Watkins parece encarar bem as tarefas que assume.
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Nota 10. Porque trata de um dos principais problemas da atualidade, na maioria dos países, ricos e pobres onde a noção de espaço público se esvazia cada vez mais. Gangues de jovens britânicos que sentem prazer em torturar psíquica e fisicamente quem age com polidez? Isto não é novidade, mas assusta saber que o fenômeno cresce como cogumelos após um período de chuvas. Mas, talvez, o mais tenebroso de tudo seja perceber que já reconhecemos esta situação e a vemos com normalidade. Sabe... Acredito muito em condicionamento, uma palavra mais seca para o que alguns chamam de educação. Fica evidente desde o início do filme, a falta que faz uma boa e rígida educação que condicione o infante para regras de convivência em um espaço público. Leis funcionam quando são acatadas, de preferência inconscientemente, pela sociedade. Se, ao contrário, temos uma grande soma de leis que se sobrepõem, estamos dando provas da ineficácia das mais gerais e enxutas porque, justamente, não são acatadas pela cultura hegemônica e hodierna. É fácil criticar qualquer proposta educacional efetiva, como a feita no Reino Unido, alguns anos atrás, propondo a punição (processo) dos pais pelo mau comportamento dos filhos. Mas, quando é recorrente significa que nenhuma medida sancionadora foi adotada em casa. Se os pais não aceitem que a escola puna seus filhos, então devem arcar com a total responsabilidade de educá-los, o que inclui assumir um contrato com o poder público, no sentido de se responsabilizar pelos atos de seus filhos. Quem acha exagero é porque não conhece (e, provavelmente, não se interessa) a realidade brutal de indisciplina, desprezo e humilhação à condição humana nestes antros chamados de 'escolas'. O filme mostra uma realidade brutal que só é pior do que a imaginada em um Laranja Mecânica porque neste, ao menos, se tratava de uma ficção.
Bela análise, meu caro!