Colin Firth arma Um Golpe Perfeito

por Marcelo Seabra

Os anos 60 e 70 se mostram uma fonte inesgotável para refilmagens. Infelizmente, desnecessárias, já que os originais geralmente se mostram superiores – às vezes, por uma diferença pequena, já que não são muita coisa também. Michael Caine, por exemplo, trocou de papéis em Um Jogo de Vida e Morte (Sleuth, 2007), já que em Jogo Mortal (Sleuth, 1972) vivia o jovem amante, e não o esposo mais velho. Jude Law, que fez par com ele, já pegou a atualização de outro de seus papéis, o famoso Alfie de Como Conquistar as Mulheres (1966).  Um Golpe à Italiana (The Italian Job, 1969) e Carter – O Vingador (1971) são mais produções da carreira de Caine que voltaram à vida, e agora é a vez de Como Possuir Lissu (Gambit, 1966), que virou o recente Um Golpe Perfeito (Gambit, 2012), em cartaz nos cinemas. Os títulos originais costumam se repetir, mas o pessoal no Brasil é criativo.

A história original, de Sidney Carroll, foi mudada o suficiente para os produtores não considerarem o produto uma refilmagem. No entanto, nomes e algumas falas inteiras são mantidos, e o esquema é o mesmo: enganar um milionário para conseguir uma bolada de dólares envolvendo arte. A dinâmica dos personagens é a mesma: um sujeito bolou o golpe, com a ajuda de um mentor; há um milionário colecionador de obras para ser enganado, mas ele não é tão bobo quanto parece; e uma mulher perspicaz se envolve para colocar tudo em prática. A grande diferença é que os novos roteiristas, ninguém menos que os irmãos Ethan e Joel Coen, resolveram fazer uma comédia de ação, e se esqueceram que o material tinha que ter graça. Mais ou menos o que fizeram com outra refilmagem, Matadores de Velhinha (The Ladykillers, 2004), que também fracassou feio.

No papel principal, Colin Firth, que atualmente se prepara para mais um Bridget Jones, consegue manter sua dignidade até andando de cuecas. No entanto, faltam-lhe o charme e a frieza de Caine, que fazia um Harry Dean ameaçador, e não um fracassado certificado. Sua pobreza poderia ser engraçada, mas as situações são repetitivas e pouco inspiradas. Completando o elenco, Cameron Diaz (O Que Esperar Quando Você Está Esperando, 2012) e Alan Rickman (o Professor Snape de Harry Potter) fazem o que podem, e é pouco, já que o roteiro não permite nada além de exagero e piadinhas infames. Stanley Tucci (de Sem Proteção, 2012) está bastante caricato e Cloris Leachman (de Espanglês, 2004) nem precisava ter saído de casa, tão rápida é a participação dela.

Um Golpe Perfeito nunca define seu tom e fica devendo algum momento brilhante, por menor que seja. Trata-se de uma ideia que deveria funcionar muito bem no papel, para vender o projeto e atrair bons nomes, mas a execução é falha. O bissexto Michael Hoffman (de Um Dia Especial, 1996) se mostra um diretor genérico, que não contribui com elemento algum com o filme. Nada chama a atenção ou deixa qualquer tipo de impressão. Com tantos roteiros rodando por Hollywood, tantos bons livros lançados, por que essa fixação em buscar inspiração no passado? O próprio Michael Caine já afirmou ser uma bobagem essa mania de refilmagens, pouco antes de aparecer em Um Jogo de Vida e Morte e comprovar uma contradição. Vamos aguardar com palpites para qual será o próximo trabalho do ator a ganhar nova roupagem.

Michael Caine, em 1966, queria roubar Lissu

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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