por Marcelo Seabra
É provável que violência sexual contra crianças seja, para muitos, o pior crime imaginável. E o sujeito responsável por algo assim só pode ser a escória da humanidade. O problema é conseguir essa informação da criança em questão, e conseguir elementos suficientes para provar o fato. Esse é o tipo de situação tão detestável que é bem capaz de a população de uma cidadezinha decidir resolver o caso por seus próprios meios. Mesmo sem saber ao certo o que aconteceu, e se aconteceu.
O grande mérito do dinamarquês A Caça (Jagten, 2012), que chega aos cinemas essa semana, é já deixar claro, para o público, o que está havendo. Lucas (Mads Mikkelsen, da série Hannibal) é um pai divorciado, se recuperando do fim do casamento, que parece estar colocando a vida em ordem. Por ser extremamente atencioso com as crianças da creche que cuida, desperta a afeição da pequena Klara (Annika Wedderkopp – acima). “As crianças não mentem”, afirma a responsável pela instituição, e uma mentirinha de Klara toma uma proporção que leva Lucas de volta ao fundo do poço, agora mais fundo. O pai da menina, Theo (Thomas Bo Larsen, de Festa de Família, 1998), é o melhor amigo de Lucas, são colegas de caça, e mesmo assim não demora a crucificá-lo.
Obviamente, há várias técnicas empregadas por especialistas que podem ajudar a fazer a criança se abrir sobre o ocorrido. Uma delas, claro, não é perguntar: “Isso aconteceu? Foi o tio fulano?”. Os adultos teoricamente responsáveis induzem a criança a se afundar na mentira, deixando a verdade cada vez mais longe. E isso aumenta na pequena o medo de uma punição, caso a farsa seja descoberta. Táticas estúpidas como essa acabam com a reputação de um homem. Quanto mais sério é o crime, mais importante se faz a comprovação da infração. Alguém já esqueceu o caso Escola Base?
Personagens pedófilos não são estranhos ao Cinema. Um caso bem retratado é O Lenhador (The Woodsman, 2004), que acompanha o molestador vivido por Kevin Bacon saindo da cadeia e tentando se recompor. Em Pecados Íntimos (Little Children, 2006), Jackie Earle Haley é um coadjuvante também já condenado e livre, mas continua perseguido pela comunidade. O Lucas de Mikkelsen coloca o espectador numa situação difícil: já sabemos de cara que trata-se de uma grande injustiça, e ter um ótimo ator no papel traz ainda mais veracidade e angústia. Não a toa, Mikkelsen saiu de Cannes com o prêmio de melhor ator. Sua cara de mau natural não se aplica aqui e ele se sai muito bem como um cara normal e decente.
O diretor e roteirista Thomas Vinterberg é sempre lembrado pelo marcante Festa de Família, ainda o maior expoente do movimento Dogma 95. Quinze anos depois (e alguns filmes e clipes), ele volta a ganhar mídia. Em entrevista à revista Preview, ele revela que não gostou de saber que seus trabalhos intermediários foram relegados a um segundo escalão, e que este seria o seu retorno. Mas é inegável que A Caça está a anos luz do que ele andou fazendo – e do que andam fazendo por aí.
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Tentei assistir mas nao consegui. Sofro alienação parental e minha familia foi acusada de violencia sexual contra meus filhos, o q ate hoje causa imensos problemas na convivencia com eles, q foram morar em outra cidade.
Pelo que vi o filme parece ser excelente, mas n tive a saude emocional necessaria pra assistí-lo.
Força, aí, Flávio!