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The Rock vira Dwayne Johnson em O Acordo

por Marcelo Seabra

Ao mesmo tempo em que continua em sua jornada de herói e suposto salvador de franquias que não têm para onde ir, como G.I. Joe e Velozes e Furiosos, Dwayne Johnson tenta ser levado a sério, alternando projetos de estilos diferentes. Para mostrar seu talento dramático, ele se aventurou em um longa policial como um pai que pretende salvar o filho em O Acordo (Snitch, 2013). Qualquer ator da mesma faixa etária poderia estar ali, o físico não fez diferença desta vez, e Johnson quer se afastar da alcunha que o fez famoso: The Rock. Sobra carisma ao ator, mas ele parece bem fora de lugar.

Johnson vive John Matthews, um empresário do ramo de transportes que tem o filho mais velho preso em uma armadilha. A lei americana prevê atenuamento de pena para quem é acusado de tráfico se ele ajudar na prisão de outra pessoa pelo mesmo crime. Na prática, se pode armar arapucas para desavisados inocentes e curiosos, caso do jovem Matthews (Rafi Gavron, de Fuga Implacável, 2012 – acima). Vendo o filho na cadeia passando por maus bocados, ele decide se infiltrar no submundo das drogas para conseguir entregar um peixe grande. Frente a esta possibilidade, a promotora vivida por Susan Sarandon (de A Viagem, 2012) promete reduzir a pena drasticamente.

O roteiro de O Acordo, escrito pelo diretor Ric Roman Waugh (de Felon, 2008) e Justin Hayte (de Foi Apenas um Sonho, 2008), baseia-se em um evento real, mostrado em um programa na televisão americana em 1999. Na ocasião, foi discutido o absurdo de uma lei que condena uma pessoa por ela simplesmente ter recebido em casa um pacote de drogas, e ela não precisa nem saber do que se trata. Com a jogada armada, a polícia cerca a casa e apenas aguarda a entrega para dar o bote imediato. Com a delação premiada, há redução de pena para quem dedurar. O desespero para conseguir o benefício é tão grande que cabe até trair amigos e criar situações.

Eventos que ligam o aviso de inverossímil acontecem, mas não são frequentes. A facilidade com que Matthews consegue seu primeiro trabalho ilegal e as perseguições com caminhões são exemplos, mas os exageros ficam por aí. O vilão de Benjamin Bratt (da série Modern Family) é mais raso que uma tábua, mau e pronto. Sarandon também não tem muito o que fazer, vivendo uma advogada ambiciosa com aspirações políticas precisando aparecer. Por outro lado, temos Barry Pepper (de The Kennedys), que chama a atenção como o suspeito braço direito de Sarandon. Jon Bernthal, do sucesso televisivo The Walking Dead, é outro que pode se aprofundar um pouco mais em seu papel, servindo de anfitrião para Matthews no mundo das drogas.

É interessante ver The Rock apanhando e caindo de cara, mas qualquer pessoa esperaria vê-lo distribuindo pancadas de volta. Não é o que o papel demanda. Independente do esforço de Johnson, ele ainda é uma figura enorme que destoa como pai de família pacato. E o carisma não esconde a falta de expressão, o que limita o resultado.

Susan Sarandon e Barry Pepper são as autoridades

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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