Amanhecer Violento prova que remakes foram longe demais

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Quando lançado originalmente, em 1984, Amanhecer Violento (Red Dawn) era um produto de sua era. A película, que trazia no elenco atores que mais tarde se consagrariam, como Patrick Swayze e Charlie Harper, digo, Sheen, era um reflexo dos temores do norte-americano padrão daquela época: o filme conta a história de como um bando de garotos, liderados por um quase adulto (Swayze), iria se tornar a pedra no sapato de uma unidade do exército soviético que invadira os Estados Unidos.

Para aqueles que nasceram nos últimos vinte anos, é bom lembrar que, por praticamente cinqüenta anos, os Estados Unidos e a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas travaram um conflito ideológico-político conhecido como Guerra Fria. Os dois países disputavam uma corrida quase imperialista com o objetivo de ampliar sua área de influência econômica e política, sem nunca entrar em um conflito direto que, muitos acreditavam, poderia desencadear a temida terceira guerra mundial. O mais perto de um conflito armado entre as duas potências aconteceu durante a crise dos mísseis de Cuba, abordado mais recentemente, ainda que em um contexto bastante fantasioso, em X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011).

O Amanhecer Violento original tinha um fiapo de história que não se sustentava e servia apenas para mostrar o que um bando de norte-americanos mal armados poderia fazer se um exército inimigo invadisse seu país. Lembro que quando assisti ao filme, no final da década de 1980, achei-o muito bom; há dois meses, no entanto, quando a data da estréia de sua nova versão se aproximava, resolvi revisitar a produção original e constatei que minhas impressões do final dos anos 1980 se deram devido à minha tenra idade. Amanhecer Violento é um filme ruim, chato, sem história, lento e que, repito, servia apenas para elevar o espírito do norte-americano comum.

Mesmo assim, resolvi encarar a remake. O filme, que deveria ter estreado em 2009 e foi adiado por três anos (devido a dois fatores básicos: a falência da MGM, produtora do filme; e uma série de ajustes que precisaram ser feitos na pós-produção para que a película, assim como seu “pai” de 1984, refletisse sua época). Assim, os invasores chineses foram substituídos por norte-coreanos (nos últimos anos, a China se tornou um dos maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos, e não pegaria bem mostrá-los como inimigos na tela grande). O novo filme começa quando o fuzileiro naval Jed Eckert (Chris Hemsworth, o Thor) retorna para casa após passar um tempo no Iraque bem a tempo de presenciar seu irmão Matt (Josh Pecker, de A Armadilha, 2011) falhar em uma jogada que levaria o time de futebol americano da cidade, os Wolverines, às finais estaduais. No pós-jogo, somos apresentados a praticamente todos os demais protagonistas do filme (ou, pelo menos, os que desempenham os papéis mais relevantes no longa): os amigos de Matt Robert (Josh Hutcherson, de Jogos Vorazes, 2012) e Tonia (Adrianne Palicki, da série Friday Night Lights e de G.I. Joe: Retaliação), além da namorada de Matt, Erica (Isabel Lucas, de Imortais, 2011).

Na manhã seguinte, a cidade de Spokane acorda com aviões despejando pára-quedistas do céu. Em sua fuga da cidade, Matt e Jed trombam com Robert e Daryl (Connor Cruise, de Sete Vidas) e partem para um chalé da família, onde começam a organizar a resistência visando aterrorizar o invasor e desestabilizar o governo temporário do líder das tropas norte-coreanas, o Capitão Cho (Will Yun Lee, do remake de O Vingador do Futuro, 2012).

A partir daí, o filme é basicamente uma história de guerra capenga: a meia-dúzia de rebeldes começa a usar táticas de guerrilha e terrorismo enquanto ajuda externa não chega. Em certo momento, a fama do grupo – que adotou a alcunha do time de futebol da cidade – se espalha a ponto de receber apoio de um trio de fuzileiros liderado pelo oficial Tanner (Jeffrey Dean Morgan, de Possessão, 2012). Nesse ponto, até se explica o porquê da Coréia do Norte ter conseguido invadir o país com o mais moderno exército do mundo sem enfrentar muita oposição oficial. Cabe a Tanner e aos Wolverines tentar resolver o problema.

Como um todo, esse Amanhecer Violento é tão fraco quanto o longa original. Em nenhum momento você se identifica com os personagens – que são bem pouco desenvolvidos e, quando o são, utiliza-se de clichês para tal, como a rivalidade entre irmãos – e a história é mal conduzida, com um desfecho meio que sem sentido ainda que condizente com o que fora apresentado ao longo dos 97 minutos do filme. Isso nos leva a perguntar: será que não havia em toda a Hollywood um roteiro original que pudesse ser levado às telas pelo mesmo orçamento dispensado nessa refilmagem?

Duelo de elencos

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

View Comments

  • A nova versão ficou simplesmente perfeita! História super desenvolvida, trama envolvente e elenco fantástico! Josh Hutcherson está neste filme como assinatura da perfeição, amo este garoto!

  • Olá eu acho se fosse para Coréia do norte atacar ele irriam jogar logo uma bomba noclear..obg

    .

  • Bom. Tudo é questão de opinião. Pra mim o filme é muito bom. Excelente na verdade. O que me leva a pergunta: Para que servem os críticos de cinema? Para emitirem opiniões fracas como se fossem o supra sumo dos cinéfilos? Quem leva em conta opiniões como a desse cara se da muito mal. Perde muito filme bom.

    • Meu caro, quem se pauta pela crítica que leu já está prejudicado de início. Abraço!

  • O filme serve como diversão, más na minha opinião não dá pra levar a sério

  • Gostei, e sem dúvida é melhor que o original. Sr. opipoqueiro, vc precisa rever seus conceitos sobre o que é ruim e bom ou até mesmo sobre cinema. Pois o filme teve uma produção muito boa, mesmo se tratando de um remake, que conseguiu pegar um elenco não tão "famoso" e desenvolver um ótimo thriller. Um filme que não há heróis, todos são sobreviventes, e lutam pelo um ideal. Acho que vc se prendeu muito na ideia do tal "espírito do norte-americano", como vc disse, e esqueceu de avaliar o filme como devia. O intelecto enche muito o ego, e faz o ser achar que é expert em tudo, mesmo ele não sendo. Espero que mesmo por se tratar de um remake, tenha continuidade.

    • Caríssimo Fábio, o autor do texto justifica todos os pontos levantados. E é assim que construímos uma discussão: com argumentos, ao invés de achismos. Concorda? Pois traga todos os argumentos e seja sempre bem-vindo.
      Abraço!

  • Amigo, vc só falou bobagens, os dois filmes são ótimos, principalmente o último

    • Também gostei bastante, é um filme com bastante ação, interessante e bem atual, por sinal, pois o que ocorre no filme pode, realmente, ocorrer nos Estados Unidos, a qualquer momento. ... Até!

    • Este último é fraco terrível. Do nada os caras da Coréia do Norte invadem os EUA com aviões arcaico e cadê a defesa doa EUA? Impossível um filme assim passar alguma credibilidade fora os cliches.

  • Gostei imenso do filme. Devia haver continuação do filme. O filme é espetacular, gostei imenso.

  • Não vi o novo filme por isso é dificil ter uma opinião. Por outro lado não vi por opção, com tantos filmes por ai resolvi me poupar de um remake de Amanhecer Violento que se não é grande coisa ao menos tem o charme nostalgico. Acho que prefiro estragar as lembranças revendo o primeiro do que arriscar o segundo.

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