Saem os vampiros, entram bruxos

por Marcelo Seabra

Com o final da novela Crepúsculo, todos ficam procurando a quem atribuir o título de “O Novo Crepúsculo”, o que é bem ridículo. E a bola da vez parece ser Dezesseis Luas (Beautiful Creatures, 2013), adaptação do livro de Kami Garcia e Margaret Stohl sobre um romance adolescente envolvendo uma jovem bruxa. Alguns elementos da trama de Stephanie Meyer estão lá, de fato, mas comparações sempre enfraquecem obras, como acontece com rótulos, em geral. Mas uma coisa é inegável: esse longa vai atingir o mesmo público-alvo dos vampiros, talvez sem o mesmo alcance. A bilheteria da primeira semana nos Estados Unidos comprova isso, já que a arrecadação ficou em apenas US$ 7,6 milhões, contra US$ 70 milhões do outro.

A coleção de livros, cuja primeira parte é adaptada aqui, não deve ser nenhuma obra-prima literária, mas a produção acabou atraindo nomes como Jeremy Irons (da série The Borgias), Viola Davis (de Histórias Cruzadas, 2011) e Emma Thompson (de Homens de Preto 3, 2012). Para os papéis principais, foram escalados os desconhecidos Alice Englert, em seu primeiro longa lançado comercialmente, e Alden Ehrenreich, que trabalhou com Francis Ford Coppola em Twixt (2011) e Tetro (2009). Não é pouca coisa assumir a posição de protagonistas de uma franquia em potencial, e os jovens fazem um bom trabalho, até onde permite o roteiro de Richard LaGravenese (de Água para Elefantes, 2011), que também dirige. Ele tenta beber na fonte de Tim Burton, parecendo se inspirar na mansão e na família de Sombras da Noite (Dark Shadows, 2012), o que já seria ruim, e ainda lhe falta a veia gótica, pendendo mais para opções bregas e sentimentais.

Ethan (Ehrenreich) é um veterano na escola da pequena Gatlin, Carolina do Sul, EUA. O sotaque de todos logo deixa claro ser uma cidade de caipiras, sem o peso negativo da palavra. Alguns são bonzinhos, outros, metidos a besta, como em qualquer lugar, e a vida segue sem maiores contratempos. Ethan tem certa popularidade, é atleta e namorava a menina mais bonita da sala, mas já começa a história cansado dela. De forma sutil (na maioria das vezes), se estabelece certas características dos personagens principais e do estilo de vida deles, preparando a chegada daquela que iria sacudir tudo: Lena Duchannes (Englert). A novata é órfã e mora com o tio recluso (Irons), e a família é apontada como adoradora do diabo. Ethan e Lena rapidamente se aproximam e o rapaz descobre o que tem de verdade por trás dessa fama.

O desenvolvimento dessa premissa dá uns 20 ou 30 minutos interessantes, como tudo correndo bem. Como visto recentemente em Meu Namorado É um Zumbi (Warm Bodies, 2013), a condição “diferente” da protagonista é usada como uma metáfora para as dificuldades da adolescência. A menina só quer ser considerada “normal” e aceita, como os demais. É então que as coisas começam a se complicar com a história da herança de família, de uma maldição e de uma definição que vai marcar Lena em seu 16º aniversário. Assim como acontece com as criaturas emo de Crepúsculo, os poderes dos membros da família Ravenwood nunca são definidos, e a cada momento vamos descobrindo novas habilidades. Tudo na conveniência do roteiro. Clichês não faltam, como um carro estragado em uma curva, na chuva, para propiciar um encontro. Os dois jovens gostam de ler os livros proibidos pela igreja, o que supostamente imprime imediatamente traços rebeldes e cultos neles, e a narração de Ethan traz comentários bem humorados e perspicazes. Pena que essa sabedoria não dure muito, ele logo vira um adolescente bobo e normal.

Irons e Thompson se divertem explorando estereótipos. E o mais curioso é que se trata de dois atores ingleses, com o famoso sotaque britânico bem acentuado. Thompson consegue esconder, mas Irons nem se importa, fazendo uma caracterização bem estranha para um americano nascido e criado na cidade fundada por sua família, no interior dos EUA. Mesmo assim, seu personagem é o mais interessante, por menos que tenha sido explorado, e não me surpreenderia ver um filme derivado contando a história dele. Viola Davis não diz a que veio e Emmy Rossum (de O Fantasma da Ópera, 2004) aproveita o pouco espaço que lhe é dado com a sexy devoradora de homens Ridley. Talvez nos próximos filmes da franquia, que só se garantem com muito dinheiro em caixa nesse, elas tenham mais espaço.

O diretor LaGravenese levou o elenco à Comic Con de NY

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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