por Marcelo Seabra
O Mestre (The Master, 2012) é o novo longa de Paul Thomas Anderson, diretor que está ainda em seu sexto longa (como Magnólia, de 1999, e Sangue Negro, de 2007), mas há muito é incensado como gênio, melhor de sua geração e outros exageros. De fato, PTA demonstra grande preciosismo técnico, usando ótimas peças, como a fotografia de Mihai Malaimare Jr. (dos dois últimos trabalhos de Coppola, Twixt e Tetro) e a trilha de Jonny Greenwood, para construir uma bela obra. O problema é o conteúdo, que fica um tanto vago e não escolhe uma direção a seguir. O longa é vendido como uma crítica à Cientologia, e de fato usa alguns elementos ligados à seita dos famosos de Hollywood. Mas em momento algum ele toma uma posição de criticar o movimento ou os membros, se limitando a mostrar traços negativos da personalidade do criador, Dodd.
Disputando o foco, Phoenix e Seymour Hoffman dão o melhor nos papéis principais e foram indicados a vários prêmios não por acidente. Phoenix, já indicado ao Oscar por Johnny & June (Walk the Line, 2005) e por Gladiador (Gladiator, 2000), este como coadjuvante, assume a frente e vive um Freddie animalesco, um homem que dá vazão a seus instintos básicos, buscando sexo e álcool com frequência – o que não é raro de se ver por aí. Seymour Hoffman (de Tudo Pelo Poder, 2011) é a possibilidade de luz nessas trevas, alguém que trará direção à vida de Freddie. A apresentação de Dodd já começa com uma grande amostra de sua vaidade, quando ele cita as várias profissões que teria, de filósofo a físico. Ele parece se aproveitar de pessoas sem rumo, convocando-as para a sua “Causa”, e ficamos sem saber exatamente o quão genuína é a sua afeição por Freddie. Sua inexistente disposição para argumentar sobre a Causa só reforça a hipocrisia dele, que espera que as pessoas o sigam cegamente, ignorando o seu passado e a sua vida conturbada. Seria ele apenas um picareta com uma grande necessidade de reconhecimento ou um picareta que realmente acredita no que faz?
Completando o núcleo do elenco, Amy Adams (de Curvas da Vida, 2012) vive a esposa de Dodd, uma mulher calma e apoiadora que esconde uma personalidade forte. Sua participação não é grande, mas o suficiente para conhecermos Dodd um pouco melhor, apesar de o personagem ficar sempre cercado por uma aura de mistério. Seu passado e como ele entrou nessa de líder de seita nunca é explicado, temos apenas migalhas. O roteiro, também de PTA, se prende à relação entre os dois, deixando a Causa de lado. Como no próprio cartaz nacional de O Mestre há uma afirmação sobre abordar a polêmica sobre a Cientologia, numa manobra desnecessária e cretina para promovê-lo, cria-se uma expectativa ainda maior sobre os bastidores da tal igreja, que tem seguidores famosos como Tom Cruise e John Travolta. Mas este é um problema do cartaz nacional, e não do filme.
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