Nicolas Cage segue rumo à obscuridade

por Marcelo Seabra

StolenStolenJá vai virar tradição que Nicolas Cage dispute com Adam Sandler o título de pior filme do ano. O que, para fãs do talentoso Cage, é uma tristeza. Isso, se alguém ainda resistir se assumindo fã dele. Com os últimos trabalhos do ator, torna-se uma tarefa bem sádica acompanhar essa carreira. Seria bem possível, por exemplo, pegar o texto sobre O Pacto (Seeking Justice, 2012) e, mudando algumas linhas sobre o fiapo de história, republicá-lo para falar sobre o novo O Resgate (Stolen, 2012). O resultado é o mesmo: jogar uma hora e meia pela janela.

O diretor Simon West volta a trabalhar com Cage, que estrelou seu primeiro longa, Con Air – A Rota de Fuga (1997), logo após coordenar os astros da ação em Os Mercenários 2 (The Expendables 2, 2012). Este, por sua vez, seguiu a interessante refilmagem Assassino a Preço Fixo (The Mechanic, 2011). Dois filmes divertidos que são exceção em uma filmografia bem irregular, marcada por muitos filmes para a televisão e séries. Na maioria, obras feitas sob encomenda, que não exigem muita competência ou imaginação. E o roteiro de David Guggenheim (de Protegendo o Inimigo, 2012) não ajuda em nada: se resume a pegar elementos de várias produções e amarrá-los de qualquer jeito, não se preocupando nada em dar veracidade ou profundidade. Até um filme que se propõe a ser “apenas” um passatempo despretensioso precisa respeitar a inteligência de seu público.

Cage vive um gênio dos roubos que é muito bonzinho, feito sob medida para o público poder torcer por ele, apesar de seus defeitos. Seu parceiro, no entanto, é um maníaco que não pensa duas vezes antes de despachar uma possível testemunha. Pronto: já sabemos o que vai ocorrer daí em diante, estabelecido o antagonismo entre eles. Will e Vincent vão se reencontrar após oito anos e, mesmo vigiado pelo FBI após sair da cadeia, Will vai tentar resolver seu problema com Vincent para que a filha não seja morta pelo outrora amigo. A garota é raptada e presa no porta-malas de um táxi e só será libertada se Will conseguir pagar a Vincent o que era a parte dele no roubo do início, que deu errado e colocou Will atrás das grades. Dividindo-se 10 milhões por quatro, ficaria 2,5 milhões para cada, mas Will enfia na cabeça que deve 10 milhões ao psicopata.

Stolen LucasStolen LucasCage está mais contido que o usual, apenas reagindo, correndo e bolando planos fantásticos. A facilidade e rapidez com que ele coloca em prática um grande roubo a um banco é ridícula, e ele se justifica dizendo que teve oito anos para pensar a respeito. Se Cage não é a pior coisa em cena, o prêmio fica com Josh Lucas. O ator, que já fez coisas constrangedoras, como Instinto de Vingança (Tell-Tale, 2009), bate o recorde como um sujeito que, após perder a perna, se torna frio e não tem mais nada a perder, como descrevem os personagens. Por isso, ele aparece sem dedos, com um cabelão de maluco e várias cicatrizes no rosto, além da perna substituta. Ele é, de longe, um dos piores vilões do cinema, e seu castigo é ter que agüentar a irritante Sami Gayle (da série Blue Bloods), que vive a refém Alison. Completam o elenco principal a bela Malin Åkerman (de Rock of Ages, 2012), que só faz ser bela, e Danny Huston (de Conspiração Americana, 2010), que vive o admirador número um de Will, e curiosamente é o chefe da divisão do FBI que investiga o ladrão.

Com o fracasso de O Resgate nas bilheterias, espera-se que Nicolas Cage comece a peneirar mais os roteiros que chegam a ele. Foram gastos 35 milhões de dólares na produção e arrecadou-se, pelo mundo, pouco mais de 2 milhões em duas semanas de exibição. No Brasil, inexplicavelmente, o longa ganha um destaque inédito em outros países, mas não deve se sustentar por muito tempo. E, a esta altura, Cage já deve ter pago muitas contas, tendo participado de oito filmes em três anos. Esperemos que o futuro não reserve a ele apenas uma participação saudosista em Os Mercenários 3.

Dá para deduzir o que vai acontecer aqui?

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

Recent Posts

Michael Keaton faz dose dupla de pais ausentes

Em um curto intervalo, Michael Keaton curiosamente estrelou dois longas sobre pais ausentes: Pacto de…

24 horas ago

Conheça a carreira do talentoso Ripley no Cinema

Muita gente que viu a série Ripley não conhecia bem o personagem e O Pipoqueiro…

5 dias ago

Oscar 2025 – Indicados e Previsões

Como acontece todos os anos, há mais de uma década, O Pipoqueiro traz os indicados…

2 semanas ago

Oscar 2025 – Um Completo Desconhecido

Outro indicado ao Oscar 2025, Um Completo Desconhecido apresenta um curto momento da vida de…

2 semanas ago

Oscar 2025 – O Brutalista

Com dez indicações ao Oscar 2025, O Brutalista é um dos destaques da temporada de…

2 semanas ago

Admirável Mundo Novo estreia outro Capitão América

Admirável Mundo Novo é a primeira aventura de Sam Wilson como o novo Capitão América…

4 semanas ago

Thank you for trying AMP!

We have no ad to show to you!