Schwarzenegger volta a divertir-se no cinema

por Marcelo Seabra

Divertido até! Isso define o primeiro longa como protagonista do ex-governador Arnold Schwarzenegger desde 2003, quando estrelou o terceiro Exterminador do Futuro. O Último Desafio (The Last Stand, 2013) chega aos cinemas apostando que muita gente vai querer ver de novo o sujeito durão que fez a felicidade de fãs do gênero ação nos anos 80 e 90. Apesar de claramente enferrujado, o ator consegue convencer num papel muito parecido com ele próprio: um veterano, cercado por jovens, que está pronto para a aposentadoria, mas ainda agüenta o tranco.

Tida como decepcionante por muitos, a participação de Schwarzenegger nos dois Mercenários não é nada perto do que ele precisa fazer em O Último Desafio. Até para o mano a mano contra um adversário bem mais jovem ele parte. No longa, ele é um ex-policial de Los Angeles que foi para uma pequena cidade do interior para levar uma vida calma como xerife. O máximo de movimentação que a cadeia local vê é um arruaceiro detido por estar bêbado. Um dos ajudantes quer ação e pede para ser transferido, e mal perde por esperar! A série de clichês é grande, mas não é problema.

O pesadelo da reduzida e inexperiente equipe do xerife começa quando um grupo suspeito está tramando algo no campo e, paralelamente, há um poderoso traficante de drogas (ao lado) em LA sendo levado para a execução que consegue fugir. Ele mostra o tanto que o FBI é incompetente e o tanto que ele próprio é inteligente, quase vidente, já que consegue, da cadeia, traçar um plano perfeito para fugir para seu México natal em um possante preto mais rápido que um helicóptero. Para isso, no entanto, ele precisará passar pela tal cidadezinha do xerife Schwarza, o que não será nada fácil. Para a resistência (que está no título original), são convocados cidadãos que nada tinham com o peixe, mas que poderiam ajudar. Uma subtrama de namorados em guerra não poderia faltar, assim como momentos em que os demais cidadãos mostram como não se assustam com uns tiros disparados em suas ruas.

A violência é exagerada e algumas cenas são para rir alto. A história, escrita pelo novato Andrew Knauer, é das mais simples, e ainda precisou ser reescrita por Jeffrey Nachmanoff (de O Traidor, 2008) e teve como supervisor George Nolfi (de Os Agentes do Destino, 2011). Nada de inédito ou inovador será visto aqui, e frases de efeito são metralhadas sem dó. Obviamente, o protagonista brinca com sua idade avançada e arruma as soluções que são possíveis naquela situação, além de não dar confiança para o asno que coordena a operação do FBI, já que considera que um não tem jurisdição sobre o outro.

O elenco de O Último Desafio é internacional, o que traz um atrativo para vários países. O vilão principal é o espanhol Eduardo Noriega, conhecido por Abra os Olhos (Abra los Ojos, 1997), longa refilmado como Vanilla Sky em 2001. Cortez, o traficante bambambam, não passa de um playboy que se acha indestrutível, e Noriega faz o que pode para tornar o personagem interessante. Temos ainda o americano/coreano Daniel Henney, o portoriquenho Luis Guzmán, o sueco Peter Stormare e o brasileiro Rodrigo Santoro (acima), que realmente ganha importância e participa da trama. No time americano, aparecem Johnny Knoxville, lesado como de costume; Harry Dean Stanton, numa pequena participação; Jaimie Alexander, que não se contenta em ser apenas bonita e parte para a batalha; e Forest Whitaker, mal escalado e parecendo estar constrangido como o babaca mor do FBI.

O coreano Kim Jee-Woon, lembrado por O Mistério das Duas Irmãs (Janghwa, Hongryeon, 2003) e Eu Vi o Diabo (Akmareul Boatda, 2010), imprime um ritmo ágil no longa e mantém a peteca no alto, com perseguições, tiroteios e o que mais precisar. É basicamente o mesmo tipo de coisa que Schwarzenegger costumava fazer em seus tempos áureos, talvez com um pouco mais de humor. Para quem aprecia esse filão, é um prato cheio.

Pausa para foto da equipe do xerife

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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