Tom Cruise politicamente incorreto parte para a briga

por Marcelo Seabra

Jack Reacher

Jack Reacher é um cara em busca de confusão. Esta é uma boa definição para um sujeito que vive perambulando pelos Estados Unidos procurando situações em que possa ser útil. Tendo passado a infância e a adolescência em academias militares, ele não conhece bem o país. Após dar baixa do exército, atingindo a patente de major, ele fica meio sem rumo, sem ter alguém que o conduza, como acontecia entre os militares. Esta é a base para o personagem título de Jack Reacher (2012), longa que no Brasil ganha o subtítulo O Último Tiro e chega às salas esta semana.

Criação de Lee Child, pseudônimo do escritor americano Jim Grant, Reacher já é protagonista de uma série de 17 livros, iniciada em 1997. Desde então, todo ano viu um novo lançamento do andarilho, com dois em 2010. Com uma carreira tão longa, já era hora de Reacher chegar à tela grande, e o produtor envolvido no projeto acabou assumindo a tarefa de vivê-lo. Era ninguém menos que Tom Cruise, que não viu problema em ser protagonista de outra franquia de ação além de Missão: Impossível. Ele já tinha, para a direção e roteiro, Christopher McQuarrie, que escreveu um de seus trabalhos, Operação Valquíria (Valkyrie, 2008). O personagem é descritos nos livros como um gigante de quase dois metros e mais de cem quilos, mas isso não era problema para o astro, grande em presença e determinação.

One ShotPara a estreia no cinema, foi escolhida a nona aventura, Um Tiro, que começa com um atirador acertando cinco pessoas aleatórias à distância. Ele foge e, com as evidências encontradas, a polícia acaba chegando ao atirador de elite do exército James Barr (Joseph Sikora, de Boardwalk Empire), que já até tinha participado de algo parecido antes. Ao ser interrogado, Barr pede a presença de Jack Reacher e, em seguida, entra em coma por ter sido agredido por outros prisioneiros. Reacher é praticamente uma lenda, um ex-militar extremamente habilidoso com armas e lutas que sai andando mundo afora e não pode ser encontrado. Para a surpresa de todos, Reacher aparece no momento exato e entra na investigação ao lado da defesa, mesmo que esteja disposto a provar a culpa de Barr. A advogada do sujeito, Helen Rodin, (Rosamund Pike, de A Minha Versão do Amor, 2010), coloca Reacher como investigador e essa dupla vai correr atrás da verdade.

Como uma espécie de mistura de James Bond e Sherlock Holmes, Reacher é bom em tudo e consegue tirar conclusões praticamente do ar. Ele é quase indestrutível e isso tira um bocado da graça, exatamente o contrário do que tem acontecido nos últimos filmes do Comandante Bond. Nada pode tirá-lo de seu alvo e sua obstinação faz até com que quebre leis, o que é moralmente questionável e traz um pouco de pimenta à mistura. Tom Cruise tem uma aura de herói que não é exatamente adequada e, mesmo sem fazer muito esforço para atuar, não chega a comprometer compensando com muita vontade de acertar (apesar de que um Woody Harrelson teria sido muito mais interessante). O elenco, que ainda inclui Herzogos veteranos Robert Duvall (de Coração Louco, 2009) e Richard Jenkins (de O Homem da Máfia, 2012), não tem grandes destaques. O que seria o maior chamativo, a presença do cineasta Werner Herzog (ao lado) como o maior dos vilões, acaba beirando o ridículo, com um personagem caricato que só não é pior por não aparecer muito.

McQuarrie fez fama com o roteiro de Os Suspeitos (The Usual Suspects, 1995), pelo qual levou um Oscar e um BAFTA, entre outros prêmios. Em 2000, ele comandou seu primeiro longa, o divertido e subvalorizado A Sangue Frio (The Way of the Gun), mas derrapou feio em 2010 com o fracasso O Turista (The Tourist). Por algum motivo, Cruise viu algo nele bom o suficiente para chamá-lo para revisar o roteiro de Missão: Impossível – Protocolo Fantasma (2011) e ele está em negociações para dirigir e escrever o quinto episódio da franquia. Em Jack Reacher, ele faz algumas escolhas acertadas, quanto a enquadramentos, ritmo (propositalmente mais lento), trilha e um certo ar setentista, daqueles filmes diretos e violentos como Operação França (The French Connection, 1971). Mas não decide o tom certo para o filme, quebrando um clima tenso com palhaçadas dignas de estreantes. O resultado não é memorável, mas tampouco é a bomba que alguns andam afirmando e pode marcar o começo de algo melhor, com os próximos e inevitáveis filmes.

O produtor David Ellison, McQuarrie e Cruise durante as filmagens

O produtor David Ellison, McQuarrie e Cruise durante as filmagens

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
Esta entrada foi publicada em Adaptação, Estréias, Filmes, Indicações e marcada com a tag , , , , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.

0 respostas para Tom Cruise politicamente incorreto parte para a briga

  1. calita disse:

    deve ser otimo esse filme!!! e como sempre eu vou ver porq eu sou fã numero 1 do tom cruise… ele e lindo demais…. :->

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *