por Marcelo Seabra
Longe de ser uma garantia de bons filmes, Richard Gere volta e meia acerta na mosca nos projetos que escolhe estrelar. Cabe ao público peneirar e descobrir as pérolas, caso de As Duas Faces de Um Crime (Primal Fear, 1996), por exemplo. Felizmente, cabe nesse grupo a estreia de Nicholas Jarecki na direção, A Negociação (Arbitrage, 2012), longa que chega aos cinemas esta semana trazendo uma ótima interpretação de Gere, que vive o tipo que amamos odiar. Não foi surpresa que o ator tenha sido lembrado entre as indicações ao Globo de Ouro 2013, anunciadas recentemente.
Com a classe e a tranquilidade de sempre (que nem sempre casam bem com o papel), Gere confere a seu Robert o ar necessário de um almofadinha que está acostumado a se safar de qualquer situação, mas está bem ciente de sua condição de engodo. A forma como ele dispensa uma revista que traz a sua foto na capa é bem sugestiva. O detetive vivido por Tim Roth (da série Lie to Me) representa o sentimento de busca por justiça que qualquer um teria nessa situação, ele parece acostumado a ver poderosos saírem livres de acusações sérias. Dessa vez, ele pretende conseguir uma condenação. Susan Sarandon faz uma mulher que, apesar de forte e socialmente atuante, é resignada quanto aos casos do marido e se contenta em ter uma bela família e recursos financeiros que parecem intermináveis.
Jarecki evita o jargão do mercado financeiro e consegue criar um interessante suspense. Roteirista do fraco Informers – Geração Perdida (2008), ele parte para um mundo que conhece, já que vem de uma família próspera e é filho do filantropo Henry Jalecki, conhecido pelo pioneirismo nas estratégias de negociação de commodities. Além deste pano de fundo, que parece uma bomba pronta a explodir, ele ainda insere a investigação de assassinato, o que eleva bastante a tensão, e consegue deixar tudo muito bem costurado. É curioso perceber que, mesmo sabendo que o personagem não vale nada, torcemos por ele, o que traz até um certo sentimento de culpa. Este é um mundo sem heróis, e Miller vai buscar sobreviver, não importa em quem tenha que pisar.
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