Emily Blunt e Ewan McGregor fazem um belo casal

por Marcelo Seabra

Após uma tímida passagem pelos cinemas, Amor Impossível (Salmon Fishing in the Yemen, 2011) poderá ser mais apreciado no conforto de casa, e já está disponível para locação. Mais um caso extraordinário de título nacional mal escolhido, o longa tem seu ponto forte no simpático casal protagonista, vivido por Ewan McGregor e Emily Blunt. É inevitável que eles vão ver algo a mais um no outro, o que o título já reforça, mas assisti-lo não deixa de ser uma experiência agradável, ainda que rapidamente esquecível.

Uma história sobre um sheik tentando levar a pesca de salmão para o deserto do Yêmen tinha que ter uma interessante sátira política por trás. Parece, pelo que falou-se em diversas análises, que o livro de Paul Torday de fato se desenvolve nessa direção, mas esta é uma opção que o diretor Lasse Hallström e o roteirista Simon Beaufoy preferem dispensar, ficando no terreno seguro da comédia romântica. Hallström não costuma passar do sentimentalismo barato, como fica claro em Regras da Vida (1999), Chocolate (2000), Sempre ao Seu Lado (2009) ou o mais recente Querido John (2010), entre outros. Beaufoy, Oscar por Quem Quer Ser um Milionário? (2008) e indicações por 127 Horas (2010) e Ou Tudo, Ou Nada (1997), deve ter se contentado em seguir a visão do cineasta.

Ewan McGregor ficou bem conhecido do grande público quando viveu o jovem Obi-Wan Kenobi na nova trilogia de Star Wars (1999-2005), mas já era tratado como grande promessa devido a dois longas independentes: Cova Rasa (Shallow Grave, de 1994) e Trainspotting (1996). Sempre versátil, ele alterna produções maiores e cheias de ação com dramas e comédias menores. McGregor se mostra a escolha ideal para fazer par com Emily Blunt, ambos trazem uma aura de elegância e charme a seus papéis. Ela chamou a atenção como a antipática assistente de O Diabo Veste Prada (2006) e aparece bem em cena com qualquer colega, como Matt Damon em Os Agentes do Destino (2011).

No filme, o Dr. Alfred Jones (McGregor) é um dos maiores peritos em pesca da Inglaterra e, por isso, é procurado por uma representante de uma grande firma de investimentos (Emily) para tornar possível o projeto de seu cliente, um riquíssimo sheik do Yêmen (Amr Waked). O excêntrico multimilionário pretende levar para sua terra natal o seu passatempo favorito, a pesca de salmão. Na cabeça dele, é claro, o projeto é muito maior, significaria levar vida a uma região árida, de gente sofrida. Milhões de dólares serão gastos para construir lagos artificiais e, o pior, levar milhares de salmões vivos da Inglaterra para o Yêmen.

A trama, num primeiro momento absurda, é encarada pelo governo inglês como uma boa possibilidade de reforçar as relações amigáveis entre os dois países, uma notícia positiva para os jornais, que não envolveria guerra ou mortes. A assessora de imprensa do Primeiro Ministro mobiliza todos que puder para que os peixes façam a viagem necessária. Kristin Scott Thomas (a tia Mimi de O Garoto de Liverpool, 2009 – foto) faz sua Patricia Maxwell roubar o filme e parece propositalmente exagerada, trazendo humor em quase todas as suas cenas.

Outro diretor, um mais corajoso e autêntico, teria dado a Amor Impossível mais humor e aproveitaria a verve crítica da história de Torday. Nas mãos de Hallström, não passa de uma comédia romântica que tem os seus méritos, mas deixa aquela sensação de desperdício de material e dos talentos envolvidos. E é bem incompreensível que tenha recebido três indicações aos Globos de Ouro, como se o ano não tivesse tido obras muito superiores para ocuparem as categorias de musical ou comédia. Não sei quando “bonitinho” passou a ser o suficiente para indicações a prêmios.

Gente rica não é louca, é excêntrica

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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