por Marcelo Seabra
De fato, Jessica Chastain parece onipresente – Os Infratores (2012) passou há pouco pelos cinemas. E mais um filme com a participação da atriz chega às locadoras. Mas, desta vez, os holofotes estão em Ralph Fiennes: o ator faz sua estreia como diretor em Coriolano (Coriolanus, 2011) e ainda protagoniza o longa. Nada melhor, para fazer bonito, que se cercar de gente competente e ainda usar uma história de Shakespeare que parece mais atual hoje que quando foi escrita, tamanha a sua relevância.
Caio Márcio (ou Caius Marcius) foi um general romano que livrou a cidade de Corioli do povo volsco, ganhando por isso o apelido Coriolano. O problema é que os romanos passavam por um período de escassez de comida, eram afligidos pela fome e procuravam um bode expiatório. Como Caio não era um tipo muito simpático ou generoso, acabou sendo apontado como o culpado-mor de todas as agruras e foi expulso da cidade. Deixando para trás a mãe, a esposa e o filho, o general busca asilo na cidade vizinha, inimiga, e prepara sua vingança.
Acredita-se que a história tenha sido escrita em torno de 1608, mas o roteirista John Logan (de A Invenção de Hugo Cabret, de 2011) faz o que funcionou muito bem, por exemplo, em Romeu + Julieta (1996), 10 Coisas que Odeio em Você (1999) e Ricardo III (1995): ele moderniza a trama. O que mais se vê nos telejornais é guerra, imagens desoladoras de países se destruindo por razões diversas (geralmente, dinheiro ou religião), e a tragédia de Coriolano tem seu lugar garantido. Outra característica interessante da peça é o retrato do poder e sua efemeridade – as coisas mudam muito rápido.
Em frente às câmeras, Fiennes (o chefe do MI6 em Skyfall) está fantástico, variando entre um estado contemplativo (friamente calculado) e a explosão extrema. Ele é um bruto que só sabe lidar com a violência, empregando sua inteligência e astúcia a serviço de seu nacionalismo e contra quem se colocar no caminho. Jessica vive Virgínia, a esposa, e a veterana Vanessa Redgrave (de Cartas para Julieta, 2010) fica com o papel de mãe de Caio, a forte Volumnia. Ambas disputam espaço com Fiennes de igual para igual, e ainda cabem em cena o ótimo Brian Cox (de Os Candidatos, 2012) como o político Menenio, e Gerard Butler (Código de Conduta, 2009), que não fede nem cheira como o general inimigo. James Nesbitt (de Domingo Sangrento, 2002), o venenoso Sinício, também merece ser mencionado.
Coriolano funciona para quem aprecia o bardo inglês e para quem nunca chegou muito perto de sua obra. Não precisa ser um iniciado para se interessar por uma história que valoriza o ser humano, com suas qualidades e defeitos, e é bem recheada de ação. As cenas de guerra têm um quê de urgência e caos e o uso de imagens de televisão é acertado, reforçando a atualidade daqueles fatos. Fiennes não costuma ligar seu nome a obras de pouca qualidade e não foi dessa vez que derrapou. Pelo contrário, mostra um futuro promissor como cineasta.
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