por Marcelo Seabra
Quando se pensa em negociações de grande vulto no mercado financeiro, logo vêm à mente aquelas imagens de Wall Street, gente gritando e fazendo gestos de compra e venda no ar. Ao que parece, esse nível de emoção só cabe a quem está na linha de frente. Os magnatas por trás do negócio não têm essa excitação. É isso que entendemos ao assistir a Cosmópolis (2012), adaptação do livro de Don DeLillo que acompanha um bilionário por uma Manhattan ligeiramente futurista e distópica.
Tendo dirigido Mistérios e Paixões (Naked Lunch, 1991) e Crash – Estranhos Prazeres (1996), David Cronenberg já mostrou não se intimidar ao levar um livro à tela grande. Estes são apenas dois exemplos mais complicados em uma lista de autores que, além de William S. Burroughs e J.G. Ballard, das obras acima, inclui até o popular mestre do terror Stephen King (de A Hora da Zona Morta, 1983). DeLillo não seria um desafio menor, com uma história que se pretende uma crítica ao capitalismo quase totalmente ambientada em uma limusine gigantesca devidamente modificada para atender às vontades e excentricidades de seu dono.
Para muitos uma negação completa, o “vampiro” Robert Pattinson se mostra uma escolha acertadíssima para o papel principal. Quem acompanha a novela Crepúsculo sabe que o ator não é famoso por seus recursos dramáticos, muito pelo contrário. Eric Packer é tão rico que sua relação com dinheiro é algo incompreensível para reles mortais, e sua conta bancária influencia diretamente o seu comportamento. Ele compra um avião antigo de 33 milhões de dólares que não pode nem sair do chão, mas poder observá-lo já o satisfaz. Ele é tão hipocondríaco que tem consultas médicas todos os dias, mesmo dentro de sua limusine, chegando a fazer um exame de próstata. Tudo isso sem demonstrar nenhuma emoção, nada mais que um pequeno incômodo. Ah, e uma pessoa com tanto dinheiro e poder não podia deixar de fazer sexo desenfreadamente, uma coisa parece amarrada à outra, mas com ainda menos emoção que o tal exame.
Como um rei, Packer se refere a si mesmo como “nós”, e “nós precisamos de um corte de cabelo”. Por esse motivo prosaico, ele decide atravessar a cidade em meio a eventos como a visita do presidente, o funeral de um rapper famoso e manifestações anarquistas, sempre cercado por seguranças e conduzido pelo motorista. A limusine serve como uma extensão de seu escritório e ele aproveita para receber funcionários e despachar com eles, tamanha é a jornada rumo à barbearia. O trânsito é tão lento que é possível sair, almoçar com a esposa (que aparece magicamente por pontos na cidade) e voltar para onde estava. A realidade desta Manhattan é realmente algo muito estranho. E entre os coadjuvantes estão atores interessantes como Paul Giamatti, Mathieu Amalric, Juliette Binoche e Samantha Morton, mas seus personagens nem sempre são bem definidos, além dos diálogos serem pretensiosos, falsos e não chegarem a lugar nenhum.
A estreia de Cosmópolis no Brasil foi adiada algumas vezes e parecia que o longa chegaria direto nas locadoras, e uma rápida passagem pelos cinemas acabou acontecendo. Mas foi tão rápida que o longa já está disponível para locação, para todos que perderam a oportunidade. A falta de destaque ou promoção, provavelmente, deve-se ao fato de se tratar de uma obra aborrecida e cansativa, mesmo não sendo tão longa. É consenso entre a crítica internacional que trata-se de uma adaptação muito fiel do livro de DeLillo e que Cronenberg mostra domínio total de seu trabalho, mas isso de forma alguma significa um filme interessante, divertido ou mesmo instigante.