por Marcelo Seabra
No ano em que Jean Dujardin levou os principais prêmios do mundo como melhor ator por O Artista (The Artist, 2011), um escorregou pelas suas mãos: exatamente o César, de sua França natal. Ele não contava com a chegada do pouco conhecido Omar Sy, que estrela Os Intocáveis (Intouchables, 2011) ao lado do veterano François Cluzet (do thriller Não Conte a Ninguém, de 2006). Os dois divertem o público na dose certa e fazem do longa uma ótima experiência.
Cluzet, lembrando demais Robert De Niro (que estrelou um clássico com o mesmo título deste), é um milionário que tem tudo que o dinheiro pode comprar, mas perdeu a esposa e a mobilidade. Tetraplégico, vive com a filha adotiva e os muitos empregados que lhe trazem algum conforto. Ao fazer uma seleção para escolher seu novo cuidador, ele se depara com um jovem irreverente, prepotente e sincero (Sy). O sujeito, que apenas buscava manter um benefício do governo fingindo estar em busca de trabalho, é surpreendido por ser escolhido entre tantos candidatos mais capacitados e supostamente mais confiáveis – mas bem entediantes.
O tema pode parecer dramático demais e, em mãos erradas, teria sido algo deprimente que induziria lágrimas aos mais incautos. Pelo contrário, a história da dupla tem entretido milhões de espectadores pelo mundo e relatos de gargalhadas durante as sessões têm sido comuns. O filme já é o mais visto da história da França, atingiu mais de 23 milhões pessoas fora do país (dados da Unifrance, responsável por promover o cinema francês no mundo), quebrando o recorde de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001). No Brasil, conseguiu 80 mil espectadores em sua primeira semana de exibição.
Escrito pelos também diretores Olivier Nakache e Eric Toledano, o roteiro de Intocáveis é inspirado no livro O Segundo Suspiro, do próprio Phillippe Pozzo di Borgo, o milionário que inspirou o protagonista. Muitas liberdades são tomadas, claro, e não vemos um relato fiel da real relação entre os dois, o que leva a algumas críticas que têm sido feitas. Vemos, na tela, alguns estereótipos que podem causar certo desconforto, como o patrão bonzinho que tem empregados praticamente sem vida pessoal, o negro de maus modos e bom coração e o fato de a diferença entre classes se repetir no gosto musical, confrontando grandes nomes eruditos e clássicos da black music norte-americana. O tratamento na França destinado a imigrantes não chegar a ser uma questão aqui, o que teria levado as coisas a outro rumo. Outra situação que pode ser apontada como problema é a falta de expressão das tramas paralelas, como as que envolvem a filha do rico, em crise no namoro, e o irmão do pobre, que está a um passo de ter sérios problemas com criminosos.
De fato, o coração do filme está na relação entre Phillippe e Driss. Todo o resto não chega a enfraquecer a trama principal, não faz muita diferença. Bom mesmo é ver os dois se conhecendo e interagindo. Cluzet entrega todas as emoções necessárias apenas com o olhar e a fala, fazendo um interessante contraponto à expressividade física de Sy, que impressiona na riqueza de detalhes de sua composição. Como aconteceu com Miss Daisy e seu motorista, um terá muito o que aprender com o outro, nunca caindo no drama fácil, sempre com um charme que conquista o público como poucos.
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Perfeito!