por Marcelo Seabra
Custo a acreditar que foram necessários quatro roteiristas para que O Ditador (The Dictator, 2012) tomasse forma. Mais difícil ainda é aceitar que o longa teve uma boa recepção em seu país de origem, os Estados Unidos. Não vou tentar discorrer sobre as possibilidades que levaram aquele povo (ou ao menos os críticos de lá) a elogiar essa palhaçada. Mesmo porque, tendo Cilada.com (2011) feito a bilheteria que fez, não me surpreenderia se no Brasil o estrago fosse parecido.
Sacha Baron Cohen, o criador dos personagens Ali G, Borat e Bruno, apresenta ao mundo o General Almirante Aladeen, déspota de um país imaginário na África do Norte. Em papel duplo, Baron Cohen vive também o imbecil que serve de dublê ao importante político, que também não passa de outro asno. Com uma trama que chove no molhado abusando do artifício da troca de identidades, o filme serve como desculpa para seu criador destilar sua noção deturpada de humor e mais uma vez usar um sotaque exótico. Talvez uma criança de oito anos, aquela que acha engraçado dizer coisas como “cocô”, vá se divertir até!
Como que se consegue atores do porte de John C. Reilly (de Precisamos Falar Sobre o Kevin, 2011) para participar dessa furada? A explicação pode estar em trabalhos como Quase Irmãos (Stepbrothers, 2008), que mostram um senso no mínimo estranho para escolhas de trabalho. E Sir Ben Kingsley parece repetir exatamente o papel de O Príncipe da Pérsia (Prince of Persia, 2010 – ao lado), ele é logo de cara revelado como a mente por trás do plano de substituição de Aladeen. Anna Faris repete seu papel de menina avoada que participa inadvertidamente de momentos que deveriam ser engraçados, como na série Todo Mundo em Pânico. Em participações menores, há gente do porte de Edward Norton (O Incrível Hulk, 2008) e Garry Shandling (o senador de Homem de Ferro 2, de 2010), mas também figurantes habituais como Horatio Sanz e Chris Parnell (do Saturday Night Live), Chris Elliot (de How I Met Your Mother) e Joey Slotnick (de Nip/Tuck).
É impressionante como algumas ideias de Baron Cohen parecem ter potencial, mas acabam dando outro resultado nem perto do imaginado. Ele apela ao riso mais fácil, que pode vir de piadas com gases, fluidos corporais ou sexo. Tudo muito juvenil, como a segunda metade de Borat (2006) ou Brüno (2009) inteiro. Qual seria, por exemplo, a lógica do personagem Nadal (Jason Mantzoukas), um cientista sério mandado para a execução que mesmo assim apóia o ditador desgraçado que acabou com a sua vida e o expulsou de sua amada Wadiya?
Algumas tiradas conseguem mexer positivamente com o espectador, como o fato de várias palavras do vocabulário do país terem sido trocadas por Aladeen. Já a descoberta de Aladeen quando ele aprende a fazer algo sozinho é de causar vergonha alheia. Como alguém consegue verba para isso? Eu, se fosse um diretor, roteirista ou ator em busca de financiamento, ficaria revoltado. Baron Cohen pode até funcionar como coadjuvante em ideias alheias (como em Hugo, de 2011), mas não o deixem criar outro personagem. Por favor!
É uma pena ter que apelar para um comentário clichê, mas não se fazem mais comédias como antigamente. E chega a ser triste ver exemplares oitentistas como “Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu” e “Top Secret”, só para citar alguns, e perceber que esta nova onda de comédia que tende mais ao riso pelo embaraço do que pela paródia vem dominando o mercado sem trazer o mesmo espírito anárquico de outrora. Nos últimos anos, a melhor comédia que assisti e que parece resgatar um pouco da nobre arte de rir sem apelar para escatologias e outras bizarrices juvenis foi “Trovão Tropical”, isto porque funciona como comédia de ação e crítica aos mandos e desmandos desta tal Hollywood que tanto vemos nas telas.
Fato, Luiz. Fazer uma boa comédia é difícil, e isso anda cada vez mais raro. Infelizmente…