por Marcelo Seabra
Li, há algum tempo, sobre um filme que parecia ser interessante. Estava para chegar aos cinemas, foi até comentado em revistas semanais. Mas nada de estrear, e não achei também em locadoras. Para a minha surpresa, um dia chego em casa e o tal filme está na TV a cabo. Na exibição seguinte, consegui pegar do início e estava resolvido o problema.
Tarde Demais (Beautiful Boy, 2010) não traz respostas fáceis. Não traz nenhuma. Perder o filho já deve ser uma dor excruciante. Mas ainda pode ser pior: ele se matou após causar uma matança desenfreada de colegas e funcionários da universidade. Se você é o pai ou a mãe desse jovem, o que resta fazer? Imaginar o que teria dado errado na cabeça dele? Se culpar? Odiá-lo? Sentar e chorar? Talvez, um pouco de tudo isso.
Sammy (Kyle Gallner, da refilmagem de A Hora do Pesadelo, de 2010) parece ser um garoto normal, um pouco mais tímido que o usual. Seus pais, Bill (Michael Sheen, o chato de Meia-Noite em Paris, 2011) e Kate (Maria Bello, de A Grande Virada, 2010), parecem ser um casal normal, na média. Aproximando mais, percebemos que os dois estão bem distantes, e um divórcio não seria difícil de se imaginar. Quando Sammy entra armado na universidade e mata quase duas dúzias de pessoas, finalizando com um suicídio, os pais se vêem podendo recorrer apenas um ao outro.
As atuações de Sheen e Maria são o grande diferencial da produção, que marca a estreia do diretor e roteirista Shawn Ku em um longa-metragem. Ambos mostram perfeitamente como cada personagem reage à tragédia, e chega a incomodar o fato de um deles aceitar prontamente que seu lindo garoto teria sido o causador de todo aquele sofrimento, enquanto o outro prefere a negação. Um parece ser mais objetivo, e seu par é mais emotivo. Formas possíveis de tentar superar o insuperável, e Sheen e Maria dão um show. Merece atenção o discreto Meat Loaf Aday, cantor que faz pequenas participações ocasionais em filmes, como em Clube da Luta (Fight Club, 1999), e vive o atendente do hotel.
O título original, Beautiful Boy, pode ser uma alusão a uma música de John Lennon, composta para seu filho pequeno. Sean seguiu os passos do pai e se tornou um cantor; Sammy partiu levando vários consigo e deixando perguntas. Pais sempre verão seus filhos como seus meninos, mesmo que por fora prevaleça uma imagem de durões. O choque de um pai se ver incapaz de proteger seu filho, seja de danos físicos ou psicológicos, foi mostrado com sinceridade este ano em Confiar (Trust), com Clive Owen em outra grande atuação. Mas, se é que isso existe, são dores diferentes, em doses diferentes.
A violência em escolas é um fato, infelizmente, e bem atual. Seja na escola de Realengo, no Rio de Janeiro, ou no campus da Virginia Tech, nos Estados Unidos, é tão forte na realidade que já invadiu a ficção. Na música, temos exemplos com Pearl Jam (Jeremy) ou P.O.D. (Youth of the Nation). No cinema, Gus Van Sant mostrou a perspectiva dos jovens assassinos em Elefante (Elephant, 2003), e Michael Moore se propôs a analisar a indústria da violência com Tiros em Columbine (Bowling For Columbine, 2002). Mais recente é Precisamos Falar Sobre o Kevin (We Need to Talk About Kevin, 2011), outro enfoque do mesmo assunto. Com Tarde Demais, temos o ponto de vista dos pais, que ficaram para contar a história e serem apontados na rua, no trabalho ou em qualquer lugar. Afinal, as pessoas precisam culpar alguém. E os pais, vão culpar quem?