por Marcelo Seabra
Mostrando muito vigor do alto de seus 56 anos, Mel Gibson continua firme à frente de uma boa aventura. É o que confirma o divertido Plano de Fuga (Get the Gringo, 2012), um longa de ação bem amarrado que só vai exigir uma hora e meia do seu tempo, mas o retorno é bom o suficiente. Seja correndo, atirando ou explodindo coisas, Gibson continua o mesmo. No bom sentido.
Com vários personagens com tendências homicidas/suicidas em seu currículo, não seria agora que Gibson iria mudar. Ele vive um sujeito sem nome, identificado apenas como “motorista” (ou “Driver”), que vai parar em uma prisão mexicana a céu aberto. É como se fosse uma pequena cidade, cercada por policiais, que só servisse para reunir tipos condenados pelos mais variados crimes. E, em meio a todos esses mexicanos, chega um gringo que chama a atenção dos locais até calado, em seu canto.
O motorista ensaia uma amizade com um garoto de nove anos que é bem mais esperto que o normal para a idade, e começa a conhecer os habitantes e o funcionamento do lugar. Logo, ele aprende o papel de cada um lá e percebe que não será muito fácil fugir. Mas, ao mesmo tempo, todos têm seu preço e tudo pode ser conversado. Basta a oferta ser boa. Dessa forma, o criminoso – que num lugar como esse parece o mocinho – vai tramando seu plano de fuga, como o título nacional deixa claro. Como ele sempre destoa em meio aos nativos e rapidamente arruma confusão, o título original é bem apropriado: “pegue o gringo”.
Depois de viver figuras como Mad Max Rockatansky, Martin Riggs (de Máquina Mortífera), Bret Maverick e o Porter de O Troco (de1999), Gibson tem diploma na escola de personagens safos, escorregadios, que sacam as coisas e conseguem sair bem. Nem que, para isso, ele tenha que se passar por Clint Eastwood. O que não deixa de ser uma homenagem interessante, já que o motorista não passa de mais um “cavaleiro solitário”, tipo imortalizado por Clint – e também visto recentemente em Drive, de 2011. Depois do drama Um Novo Despertar (The Beaver, 2011) e de alguns escândalos nos tablóides, nada como voltar a terreno conhecido, não é, Mel?
Se acreditarmos no filme, todos no México são corruptos e a polícia pode ser pior que os bandidos. Mas não foi vista uma campanha contra Plano de Fuga, como ocorreu com o sofrível Turistas (2006) no Brasil. Tudo não passa de uma brincadeira com estereótipos, levados ao extremo e, por isso, tratados de forma bem humorada. E os americanos também não são poupados, todos que aparecem em cena têm interesses escusos e ninguém é santo.
Além de atuar, Gibson escreveu e produziu Plano de Fuga, deixando a direção a cargo de seu conhecido Adrian Grunberg, que foi assistente ou diretor de segunda unidade em diversas produções e faz aqui a sua estreia no comando de um longa, além de também ter escrito. Os dois trabalharam juntos em Apocalypto (2006) e O Fim da Escuridão (Edge of Darkness, 2010). Gruberg mostra que está no caminho certo e já sabe entreter seu público. Resta saber o que Gibson fará como vilão em Machete Kills, sequência do horroroso Machete (2010). Vai merecer, no mínimo, uma conferida, e sua presença já levanta um pouco as expectativas.