MIB 3 tem dois K e quase nada de J

por Marcelo Seabra

Misturando duas tendências observadas atualmente, as adaptações de quadrinhos e as sequências de sucessos passados, chega aos cinemas nacionais Homens de Preto 3 (Men in Black 3, 2012), mais uma aventura com os personagens de Will Smith e Tommy Lee Jones. Já estando na terceira parte, o quesito originalidade não se aplica mais, mas a boa notícia é que a trama, baseada em uma ideia antiga de Smith, traz frescor à série e recupera o clima do primeiro filme, de 1997.

São dez anos que separam este do segundo episódio, e esta distância foi necessária para que se esquecesse a fraca história que contava com Lara Flynn Boyle como vilã. Nenhum dos envolvidos queria simplesmente repetir a fórmula “alien vem para a Terra destruir tudo e os agentes devem resolver o problema”. Por isso, ainda durante as filmagens, em 2002, Smith procurou o diretor Barry Sonnenfeld com a ideia de J (Smith) ter que voltar ao passado para salvar K (Jones) e, por tabela, conhecer melhor o parceiro.

Em meio a mais um caso de ataque alienígena a ser contornado, nos encontramos novamente com os agentes J e K, que têm que limpar a cena, apagar a memória das testemunhas e plantar uma nova explicação para o fato presenciado. Ao mesmo tempo, conhecemos o novo vilão, o grotesco Boris, o Animal (“É só Boris”, ele diria – acima). Ele foge da prisão e só tem um objetivo em mente: eliminar seu maior desafeto, justamente o agente K. Para isso, ele pretende executar um plano mirabolante: usar um dispositivo e voltar no tempo, acertando K em 1969, quando eles tiveram o principal embate.

A viagem no tempo nos permite ver muitas coisas interessantes, como as armas usadas na época. O QG dos Homens de Preto está mais para o escritório da série Mad Men, com todos aqueles penteados e figurinos próprios para a década, tudo muito adequado. O diretor de arte Bo Welch, indicado ao Oscar pelo primeiro filme (além de outras três indicações – e do recente Thor, de 2011), faz um belo trabalho técnico. É fantástico o contraste entre as versões do QG de hoje e de 1969. E há várias referências, tanto a celebridades (caso de Justin Bieber, Lady Gaga e Mick Jagger) quanto a elementos dos longas anteriores, como o cão Frank, o que serve como mais um atrativo aos fãs.

Como novidade no elenco, temos Emma Thompson (a Professora Sybil Trelawney de Harry Potter) e Alice Eve (de O Corvo, 2012) dividindo o mesmo papel, além de Bill Hader (de Superbad, de 2007) como um engraçado Andy Warhol e Michael Stuhlbarg (de A Invenção de Hugo Cabret, 2011), vivendo um curioso alien que consegue transitar entre as linhas temporais. Dando vida a Boris, o comediante e dublador Jemaine Clement (da série The Flight of the Conchords, 2007-2009) tem uma boa ajuda da maquiagem (de Rick Baker) e dos efeitos visuais para ser nojento e ameaçador na medida certa.

Mas o grande destaque, de longe, é a interpretação de Josh Brolin (de Bravura Indômita, 2011 – ao lado, com Alice Eve) como a versão mais jovem de K. Brolin consegue usar os trejeitos de Jones muito bem, com algumas inovações, já que o episódio em 1969 teve sérios reflexos na personalidade dele. Fica muito claro o que muda na postura do personagem, o que só o faz crescer, ter mais profundidade.

No meio disso tudo, Will Smith acaba passando batido. Nem a música tema ele assina, caso dos filmes anteriores. A câmera bem que tenta valorizar as caras e bocas e as piadinhas do ator, mas qualquer outro profissional que estiver cena consegue ter mais destaque. Smith, que esteve no Rio de Janeiro (com Brolin) para o lançamento de Homens de Preto 3, vai acabar dando lugar ao filho, Jaden, que parece estar mais em alta em Hollywood. Atéo diretor Sonnenfeld brincou, em entrevista à revista Empire, que poderia chamar o garoto para um possível reboot da franquia.

O lendário Rick Baker e algumas de suas criaturas

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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