por Marcelo Seabra
Tem gente que reclama que filme nacional é só violência e miséria. E faz cara feia para as comédias românticas, e a maioria não presta mesmo. Tirando isso, o que sobra? Paraísos Artificiais (2012) é um exemplo do que pode ser feito fugindo do lugar-comum. Trata-se da estreia do premiado Marcos Prado na direção de um longa de ficção, depois de escrever e comandar o elogiado documentário Estamira (2004) e de produzir também os dois Tropa de Elite (2007 e 2010), entre outros.
Publicado em 1860, o livro Paraísos Artificiais, do poeta francês Charles Baudelaire, descrevia o efeito de três drogas populares na época: o haxixe, o ópio e o vinho. O filme usa o mesmo título, mas parte para drogas mais modernas, sintéticas, e para o universo dos jovens atuais, os que não sabem bem o que fazer da vida. As drogas bem podem levar a estes paraísos, mas corre-se o risco de a experiência não ser tão boa e um inferno poderá ser visitado. Como explica o maluco beleza Mark (Roney Villela), as drogas podem potencializar o que a pessoa já traz em si.
A relação entre os irmãos Nando e Lipe (César Cardadeiro) tem um quê de A Outra História Americana (American History X, 1998), assim como a estrutura familiar deles. É possível perceber influências de alguns filmes, e fica a impressão que Prado e seus outros roteiristas, Cristiano Gualda e Pablo Padilla, procuraram dar mais base a seus personagens, abrangendo áreas variadas de suas vidas. Não só eles não dão essa profundidade aos jovens como, por tratarem vários assuntos, acabam ficando no superficial, nunca atingindo o impacto de obras como o já citado American History X.
Apesar de simplista em alguns aspectos, Paraísos Artificiais mostra bem o mundo das raves chiques, em lugares paradisíacos. A fotografia de Lula Carvalho é impecável, como toda a parte técnica do filme. O diretor chega muito perto de simular as sensações dos
personagens, fazendo com que o público os acompanhe em vários momentos, seja numa
O elenco, que contou com a preparadora tarimbada Fátima Toledo, está muito bem. Nathalia e Biachi já haviam sido figurantes sob a batuta do produtor Prado em Tropa de Elite, e encaram aqui a primeira vez como protagonistas. Todos funcionam a contento, imprimindo carisma a seus personagens e dando força ao longa. Apesar dos defeitos, é uma boa estreia para Prado, que segue com uma ótima média entre seus trabalhos e já promete o próximo sobre gangues de torcedores de futebol. Ele pretende fazer algo como uma “trilogia jovem”, abordando os temas caros e esta parcela da população. O jeito é aguardar e torcer por cada vez mais qualidade.
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