por Rodrigo “Piolho” Monteiro*
Nos quadrinhos, heróis independentes acabam se unindo em grupos quando surge um “mal tão grande que nenhum deles, individualmente, poderia superar”. É essa a premissa que fará com que Capitão América, Homem de Ferro, Thor, Hulk, Viúva Negra e Gavião Arqueiro, além de Nick Fury e a SHIELD, se unam em uma equipe no filme Os Vingadores (The Avengers, 2012), que estréia no dia 27 de abril. O grande antagonista do grupo será Loki, o meio-irmão de Thor, que terá consigo um exército alienígena.
Pouca gente deve saber, mas usar Loki como o vilão que tornará os Vingadores uma equipe foi uma ideia originalmente concebida por Stan Lee, o criador da maioria dos grandes personagens da Marvel. Em 1963, Stan escreveu uma pequena história cuja premissa, ainda que simples e quase ingênua, era bastante inventiva há quase 40 anos: cansado das derrotas sofridas pelas mãos de Thor, Loki decide vir à Terra e manipular o mais forte mortal do planeta – no caso, o Incrível Hulk – para que ele fosse seu instrumento de vingança contra o irmão. Infelizmente, para Loki, seu estratagema acaba dando errado quando Thor recebe a ajuda de Homem de Ferro, Homem-Formiga original (Hank Pym, depois conhecido como Golias, Gigante, Jaqueta Amarela e, atualmente, Vespa), Vespa (Janet Van-Dyne, ex-esposa de Hank, morta na saga “Invasão Secreta”) e do próprio Hulk para derrotar o vilão.
Essa seria a formação do grupo até 1964, quando o Capitão América (único personagem da equipe que não fora criado por Stan Lee) passaria a integrar o grupo. O Gavião Arqueiro ingressou na equipe a partir em 1965, saindo e voltando por diversas vezes sendo atualmente membro do grupo, enquanto a Viúva teve uma passagem curta pela equipe na década de 1970, apesar de ainda ser aliada ocasional de alguns de seus membros.
No fim do século passado, o então presidente da Marvel, Bill Jemas e o editor-chefe Joe Quesada apostaram em uma nova iniciativa: reapresentar os grandes heróis da editora para uma nova geração de leitores, sem que os mesmos precisassem se apoiar em 40 anos de cronologia para entender suas histórias. Essa iniciativa já havia sido tentada e saiu pela culatra poucos anos antes, pois os leitores fiéis e mais antigos sentiam-se traídos pela editora quando aquelas histórias que seguiam há décadas eram retiradas da cronologia. A opção foi criar um Universo Marvel alternativo, conhecido como Ultiverso.
O Homem-Aranha e os X-Men, carros-chefe da Marvel, foram os primeiros a serem inseridos nessa nova iniciativa, cujo sucesso levou, naturalmente, à expansão da linha com títulos do Quarteto-Fantástico e dos Vingadores. Para marcar a diferença entre os Vingadores do Universo Marvel Regular e do Ultiverso, optou-se pelo grupo assumir a alcunha de “Os Supremos”. Essencialmente, a primeira formação dos Supremos é similar à dos Vingadores originais, salvo pela adição de Capitão América e a exclusão do Hulk. Gavião Arqueiro e Viúva Negra logo se juntaram aos demais, juntamente com Feiticeira Escarlate e Mercúrio, dois irmãos mutantes, filhos de Magneto.
Há algumas outras diferenças fundamentais, das quais os criadores do longa-metragem se aproveitaram na hora do roteiro. A principal delas é a motivação para a origem do grupo: na versão de Mark Millar, o grupo se une por iniciativa do governo estadunidense para criar uma força de defesa superpoderosa, sob a chancela da SHIELD, para combater ameaças de terroristas super-poderosos – que nunca aparecem. Bruce Banner, então, tem uma ideia tanto brilhante quanto insana: ele decide injetar uma solução contendo sua fórmula do soro do supersoldado e uma amostra do sangue de Steve Rogers em suas veias. Ele se torna um Hulk descontrolado, que destrói parte de Nova Iorque e, consequentemente, justifica a existência do grupo perante a opinião pública.
No entanto, a grande ameaça que os Vingadores enfrentam nessa versão de Millar e Bryan Hitch acontece no segundo arco de histórias, quando o grupo descobre que um grupo de alienígenas, os Chitauri (uma variação dos alienígenas transmorfos Skrulls, presentes no Universo Marvel regular), tem um plano para erradicar a vida humana na Terra, visando corrigir um suposto desequilíbrio cósmico. Os Chitauri estavam na Terra há séculos e foram, por exemplo, responsáveis pelo holocausto. Os Chitauri, no entanto, não contavam com a presença do Capitão América, que foi um dos grandes responsáveis por arruinar seus planos de “limpeza” durante a Segunda Guerra.
Aproveitando a estreia do filme, a Panini Comics lançou uma edição recontando a origem clássica dos Vingadores. Editada como minissérie nos EUA, a história em 5 partes foi lançada por aqui na íntegra em Avante Vingadores nº 52, ainda nas bancas. Os produtores do longa bebem nas duas fontes citadas acima. A ameaça que o grupo precisa enfrentar, além das tensões internas, é justamente um exército alienígena Chitauri liderado por Loki. Se isso vai dar certo, só poderemos saber na próxima semana. As primeiras opiniões de quem viu têm sido bem animadoras.
*Rodrigo “Piolho” Monteiro – Colunista ocasional do Pipoqueiro, é formado em publicidade. Desde o ano 2000, já colaborou e/ou colabora com diversos sites de cultura pop, incluindo Universo HQ, o Binóculo, Delfos e Omelete, para o qual escreve desde 2001. Interessado por quadrinhos e música, atualmente mantém um blog especializado em – mas não limitado a – rock e heavy metal, o Sounds of Asgard (soundsofasgard.wordpress.com).