por Marcelo Seabra
No domingo, 15/04, aconteceu a primeira exibição pública do segundo curta-metragem escrito e dirigido pelo crítico de cinema Pablo Villaça, criador do site Cinema em Cena. A obra, Morte Cega (2012), se mostra mais ambiciosa que o trabalho anterior de Villaça, A_ética, usando mais ambientes e mais atores. E, a exemplo de cineastas consagrados, como Martin Scorsese, Villaça aproveita o curta para fazer um pequeno tributo ao cinema. Curto, porém completo, e interessante.
Em um dos vários momentos de metalinguagem de Morte Cega, é mencionada a dificuldade de se conseguir financiamento para obras áudio-visuais no Brasil, e mais especificamente em Belo Horizonte. Além de discutir o fazer cinema, Villaça também aproveita para plantar algumas referências, em rápidas homenagens. Hannibal Lecter, por exemplo, está lá. O mais divertido é concluir que, numa única exibição, fica impossível perceber todos os detalhes. Villaça, que além de crítico é professor de Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, tem anos de carreira, o que torna ingrata a tarefa de decifrar suas construções. Não que isso faça falta, mas não deixa de ser um bônus para o público pescar uma informação nova. E um atrativo para novas conferidas.
Em cena, nos papéis principais, estão o ator e produtor teatral Maurício Canguçu (sócio de Ílvio Amaral, que participou de A_ética) e o comediante Geraldo Magela, o ceguinho (ambos acima). Apesar do que possa parecer, não se trata de uma comédia, mesmo tendo vários momentos engraçados. Magela dá um novo passo em dois sentidos: saindo um pouco do gênero que o consagrou e fazendo sua estreia no cinema – e seu visual lembra bastante o Dustin Hoffman. Canguçu, bem mais experiente na ficção, entrega uma ótima performance, enquanto Magela é correto em sua composição, demonstrando ser capaz de papéis sérios também.
Como disse o produtor Guilherme Fiúza (da Abuzza Filmes) antes da sessão, realizada na sala Humberto Mauro, não é porque a verba é pouca que o filme será ruim ou mal feito: a produção é muito bem cuidada. A fotografia é o que se esperaria de um crítico que quase sempre, em seus textos, chama a atenção do público para este aspecto. Só a trilha às vezes se sobrepõe aos diálogos, problema que a sala deveria ter ajustado.
A paixão dos envolvidos no projeto fica clara, a impressão passada é a de que todos se dedicaram bastante, e deveriam ficar felizes com o resultado. Todas as análises e todos os filmes assistidos ao longo desses anos não foram em vão e Villaça aplica muita coisa, mostrando o bom aluno da sétima arte que é. É claro que, mesmo tratando-se de um colega, a ética profissional exigiria execrar a obra, se fosse o caso. Se fosse o caso.
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