por Marcelo Seabra
Há alguns anos, assisti a um filme chamado Jornada da Alma (Prendimi l’anima, 2002) que, apesar de não causar nenhuma impressão suficientemente forte, trazia uma história interessante. O foco era no relacionamento do renomado psiquiatra Carl Gustav Jung com uma paciente que viria a se tornar também uma médica, a perturbada e inteligente Sabina Spielrein. Tudo o que houve entre eles ia sendo descoberto por dois estudiosos, no presente, através de uma profunda pesquisa em documentos e cartas.
Quase dez anos depois, o diretor David Cronenberg, famoso por estranhezas como A Mosca (The Fly, 1986), Videodrome (1983) e Gêmeos – Mórbida Semelhança (Dead Ringers, 1988), decidiu voltar seu olhar para essa trama, bem mais convencional que seus trabalhos anteriores. O livro A Most Dangerous Method, de John Kerr, já havia dado origem à peça teatral The Talking Cure, de Christopher Hampton (Oscar de Roteiro Adaptado por Ligações Perigosas). Cronenberg, então, se aliou a Hampton, com a intenção de chamar Christoph Waltz, Christian Bale e Julia Roberts para os papéis principais.
Devido a conflitos de agenda, nenhum dos atores pôde se comprometer com Um Método Perigoso (A Dangerous Method, 2011), e acabaram escalados Viggo Mortensen (em sua terceira colaboração com o diretor), Michael Fassbender (em um de seus cinco filmes de 2011) e Keira Knightley (a mocinha da trilogia Piratas do Caribe). Por se tratar de um roteiro construído em cima de inúmeros diálogos (que parece manter a estrutura da peça), o trabalho dos três deveria ser impecável para não afundar a produção. Tirando os exageros de Keira, bem caricata na jornada inicial de sua personagem, a missão foi cumprida.
Com a melhora gradual de Sabina e sua dedicação à medicina, pretendendo ela própria se formar, uma aproximação não muito ética a Jung começa a acontecer. Há um outro personagem, Otto Gross (numa marcante participação de Vincent Cassel), que tem uma participação decisiva na história. Ideias cada vez mais conflitantes levam os doutores a se desentenderem, com Freud indicando o sexo como culpado pelos distúrbios da humanidade e Jung levantando hipóteses relacionadas a religião e a possíveis interferências de fenômenos paranormais. A jovem inadvertidamente acelera o fim da associação.
Quem se interessa pelo assunto vai gostar de ver os pontos levantados por cada um e até a impressão que um tinha do outro. Hampton acaba privilegiando os traços negativos da personalidade de cada um, já que Jung parece incorporar facilmente as influências de terceiros, enquanto Freud automaticamente transforma todos à sua volta em servos e seres intelectualmente inferiores. Apesar de não desenvolver seus personagens tanto quanto poderia, Um Método Perigoso permite ao público tomar partido de quem julgar mais correto, além de reforçar a importância de Sabina para os eventos que cercam o nascimento da psicanálise.
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