Washington e Reynolds mantêm thriller satisfatório

por Marcelo Seabra

Uma dupla carismática pode ajudar a salvar um thriller não muito original. Estamos falando de Denzel Washington (Oscars por Tempo de Glória e Dia de Treinamento) e Ryan Reynolds (o Lanterna Verde), que se reuniram para fazer Protegendo o Inimigo (Safe House, 2012), um policial tenso e rápido o suficiente para manter o interesse do espectador. Minutos depois, pensando a respeito, você pode até achar falhas aqui e ali, mas na hora tudo funcionou bem.

Washington aparece disfarçado (leia-se com cabelão e cavanhaque) vivendo Tobin Frost, um ex-agente da CIA que caiu na vida vendendo segredos da agência e de quem mais aparecer pela frente. Ele passou dez anos se virando, empregando tudo o que aprendeu em seus anos de trabalho, e de repente se entrega na embaixada americana da Cidade do Cabo, África do Sul. Depois do rebuliço inicial, já que Frost é top of mind quando se fala de espião traidor, os cabeças da CIA ordenam que se leve o prisioneiro para um abrigo seguro, uma casa secreta mantida para receber este tipo de gente.

Parecia ser mais um dia entediante na carreira do novato Matt Weston (Reynolds), que passa seus dias atendendo o telefone sem grandes novidades como “caseiro” do abrigo. Weston deve receber Frost e a equipe enviada para interrogá-lo, mas as coisas não serão tão simples. O vira-casaca tem um arquivo que supostamente causará muito estrago se for divulgado, e muita gente vai correr atrás dele. Weston, então, se vê na missão que custará a sua vida ou trará a tão almejada promoção que lhe permitirá viver tranqüilo com a namorada.

O jogo de gato e rato entre os espiões de gerações diferentes prometia mais. Afinal, Frost é tido como um grande manipulador de mentes, era um negociador habilidoso em seus dias como funcionário público. E Weston é o sujeito que acabou indo para uma cidade onde nada acontece, para uma função em que ninguém nunca dependerá dele. Fica claro que não deve ter sido dos recrutas mais brilhantes. Logo, os diálogos entre eles deveriam ser mais afiados, não se limitando a falar da namorada e da dificuldade de se manter uma vida a dois quando se é um profissional do perigo. Supostamente, um levaria o outro facilmente na conversa, o que deixaria as coisas mais divertidas.

Os maiores atrativos de Protegendo o Inimigo são a agilidade da ação e seus protagonistas. Praticamente em tempo real, o filme ganha um ritmo ágil acompanhando a fuga do relutante Weston, que deve proteger seu prisioneiro e, ao mesmo tempo, impedir que ele escape. Os atores cumprem bem seus papéis – já vimos várias vezes que ambos são capazes de boas cenas de ação. O reforço no elenco responde pelos nomes de Brendan Gleeson (do recente O Guarda), Vera Farmiga (de Contra o Tempo), Sam Shepard (o pai de Entre Irmãos), Joel Kinnaman (da série The Killing) e Robert Patrick, o eterno T1000.

Apesar do nome (devido ao pai chileno), o diretor Daniel Espinosa é sueco e reforça a onda nórdica que vem tomando a televisão e o cinema. Fortes no gênero policial, os artistas daquela região – sejam escritores, cineastas ou atores – vêm ganhando destaque, tendo como nome mais famoso o falecido Stieg Larsson, autor da trilogia Millennium. Espinosa filma o roteiro do estreante David Guggenheim, que ganhou respeito o suficiente para ter a publicação de seu primeiro livro garantida e já está escalado para trabalhar com o frenético Tony Scott, diretor que parece ter sido a inspiração de Espinosa nesse Protegendo o Inimigo (pelo estilo e pelo ator-amuleto, Washington).

Espinosa e o cabeludo Denzel

Espinosa e o cabeludo Denzel

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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