por Marcelo Seabra
Imagine misturar o clássico Pacto Sinistro (Strangers on a Train, 1951) com o dramalhão A Corrente do Bem (Pay It Forward, 2000). Daria um longa onde um personagem mata quem causa problema para outro e a dívida passa adiante, com todos ao mesmo tempo sendo beneficiados e tendo um dever a cumprir, dificultando o trabalho da polícia por não terem ligação alguma entre si. Eu assistiria a este filme. E é o que parecia ser O Pacto (Seeking Justice, 2012). Mas, ultimamente, um filme com Nicolas Cage nunca é o que parece – é sempre pior.
Alguns atores podem ser acompanhados de perto por seus fãs, já que dificilmente fazem um trabalho muito ruim. Há poucos dias, um amigo observou esse fato a respeito de Denzel Washington, cuja presença sempre o motiva a conferir uma obra. Nicolas Cage já foi um destes profissionais inspiradores de tal confiança. Já foi. Há muito tempo. Depois de assistir, em um curto período de tempo, a O Pacto, O Motoqueiro Fantasma 2, Reféns, Fúria Sobre Rodas, Caça às Bruxas e Aprendiz de Feiticeiro, não há quem resista.
Há apenas uma pequena demonstração do maníaco que Cage guarda em si. O único indicador dos famosos chiliques do ator acontece na boate, rapidamente. Tudo corre bem até que a esposa é atacada. Depois do estupro e agressão, na sala de espera do hospital, o professor é abordado por um sujeito misterioso que se mostra solidário à dor de ter um parente agredido dessa forma e faz uma oferta tentadora. Bastaria um sim para que ele mobilizasse sua organização para fazer o que as autoridades dificilmente fariam: punir o agressor. Cage ficaria apenas devendo um favor, que viria no momento necessário. Nada que a máfia já não faça há décadas.
O diretor Roger Donaldson conduziu filmes famosos dos anos 80, como Sem Saída (No Way Out, 1987) e Cocktail (1988). Apesar dos pesares, teve altos nas décadas seguintes, como A Experiência (Species, 1995) e Treze Dias que Abalaram o Mundo (13 Days, 2000). E assinou em 2008 o interessante Efeito Dominó (The Bank Job). Mas Donaldson não anda em boa forma, entregando uma obra enfadonha e previsível onde nada funciona. Não chega a ser o pior trabalho de Nicolas Cage – o que não significa muito. Para Donaldson, no entanto, este é um sério candidato.
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