por Marcelo Seabra
Filmes sobre pessoas com poderes sobrehumanos costumam tratar temas semelhantes, como exclusão social, solidão, inadequação em geral. As franquias dos X-Men e do Quarteto Fantástico são bons exemplos. Agora, imagine cruzar esse filão com a interminável moda dos “filmes compostos por filmagens perdidas (e achadas)”. Pode-se dizer que Homem Aranha mais A Bruxa de Blair é igual a Poder Sem Limites (Chronicle, 2012). E a soma, assim como as parcelas, é positiva.
O inconveniente desse tipo de filme permanece, apesar de não incomodar o tempo todo: a necessidade de se ter sempre uma pessoa filmando acaba ficando irritante, para não dizer inverossímil. Por que alguém simplesmente decide começar a filmar sua própria vida? Por que alguém dentro de um carro despencando continuaria a filmar? O diretor estreante Josh Trank até arruma algumas boas saídas, como cortar em certos momentos e deixar o público entender as cenas seguintes sem precisar necessariamente vê-las. E passar a utilizar também as cenas filmadas por outros personagens e figurantes, como se a edição final dependesse de todos eles para existir. Como já foi dito, é inverossímil, mas não deixa de divertir.
Do lado de fora de uma festa à qual todos acabaram indo, os três personagens são reunidos em torno de um brilho misterioso que, após um simples toque, confere poderes a eles. Logo, Andrew, Matt e Steven descobrem ter graus de potência e capacidade de controle diferentes. Com exercícios frequentes, eles vão adquirindo prática e logo veem a necessidade de estabelecer regras, para que a situação não saia do controle ou ganhe publicidade.
O que mais funciona em Poder Sem Limites é o fato de cada um ter uma personalidade bem específica e de o roteiro se preocupar em proporcionar um desenvolvimento a eles, e não correr logo para o que importa. Também novato, o roteirista Max Landis, filho do lendário diretor John Landis (de “clássicos” como Um Lobisomem Americano em Londres e Os Irmãos Cara de Pau) deixa pequenos buracos, mas cria situações que fazem o público se identificar com os garotos e se preocupar com seus destinos, o que é fundamental para o sucesso de qualquer filme, série, peça ou livro.
Grandes poderes trazem grandes responsabilidades, como diria o saudoso Tio Ben Parker. Se a cabeça não está preparada, o corpo pode fazer estragos memoráveis, e adolescentes imaturos não são exatamente o que se pode chamar de preparados. Andrew, Matt e Steven terão um longo caminho não só para aprenderem a dominar seus poderes recém-adquiridos, mas para terem sabedoria ao usá-los.
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Excelente matéria, parabéns. Só faltou mencionar a semelhença com o anime "Akira" de 1988. Abraço.
Obrigado, Rodrigo!