por Marcelo Seabra
Às 22h30, horário de Brasília, começa a 84ª edição dos prêmios da Academia. Isso, depois de uma longa cobertura da chegada dos astros ao teatro antes conhecido como Kodak. A empresa faliu, foi desobrigada pela Justiça a honrar o patrocínio da casa e o novo nome do teatro é Hollywood and Highland Center. Uma palhaçada com Sacha Baron Cohen, ou “O Ditador”, chamou atenção, tudo claramente combinado previamente – não sei se o apresentador do canal E! sabia, já que parece não ter gostado nada da pegadinha. Isso, além do tradicional desfile de vestidos e cabelos espalhafatosos, nem todos de bom gosto.
Os campeões de indicações são O Artista e A Invenção de Hugo Cabret, mas vai ter oportunidade para muitos longas. Para vários dos concorrentes, já é ótimo ter sido indicado. Quem, por exemplo, havia ouvido falar em Demián Bichir, o ator lembrado por um belo trabalho em Uma Vida Melhor? Chegando direto em DVD no mercado nacional, o filme certamente vai sair bastante das prateleiras. Bichir, famoso em seu México natal, já havia sido Fidel Castro nos dois Che, mas nada como uma indicação ao Oscar.
Pontualmente, entra Morgan Freeman no palco para uma rápida introdução à cerimônia. E entra o tradicional video de Billy Crystal (ao lado) interagindo com alguns dos filmes indicados da noite. É a nona vez que ele apresenta e temos que aguentar uma longa música que menciona os nove indicados a Melhor Filme. E é ressaltado que a noite será para um, enquanto todos os demais ficarão tristes. Aquela história de diminuir o peso da competição foi pro espaço.
A primeira categoria da noite, apresentada por Tom Hanks, é Melhor Fotografia. Hugo começa bem, com a estatueta careca para um figura de cabelão e barba brancos, praticamente o Gandalf – Robert Richardson. E Hugo leva outra em seguida, para Melhor Direção de Arte: Dante Ferretti e Francesca Lo Schiavo. O primeiro bloco é encerrado com dupla premiação para Hugo.
A Academia sempre tenta cortar tempo, mas outro clip desnecessário é apresentado. E seguem com Melhor Figurino, em que O Artista emplaca seu primeiro prêmio, para Mark Bridges. Jennifer Lopez e Cameron Diaz continuam no palco para Melhor Maquiagem. E nada como Meryl Streep como propaganda: A Dama de Ferro ganha, com Mark Coulier e J. Roy Helland. Outro clip – sobre as primeiras impressões sobre cinema – e outro comercial.
Sandra Bullock, em uma fantástica fala em chinês com leve sotaque alemão, chama a categoria de Melhor Filme Estrangeiro, exaltando a diversidade. E se dá o que todos esperavam, o único dos indicados que chegou aos cinemas brasileiros é premiado: A Separação, do Irã. Christian Bale, vencedor no ano passado por O Vencedor, apresenta a Melhor Atriz Coadjuvante. Como essa Melissa McCarthy conseguiu uma indicação? Como o filme dela foi lembrado? Não deve levar nada. E dá outra barbada: Octavia Spencer, do fraco Histórias Cruzadas. Em meio a choro, Octavia agradece ao estado do Alabama, ao elenco, a Deus e a todos mais que ela lembrou.
Billy Crystal chama um engraçado video sobre as pessoas que eram contratadas para assistirem os filmes e darem opiniões, as platéias-teste. Muitas obras foram alteradas por este tipo de prática. No trecho, a turma de Christopher Guest protagoniza o momento após a sessão de O Mágico de Oz, dando um retorno esdrúxulo. A próxima categoria é com Tina Fey e Bradley Cooper, Melhor Edição. Recebem os Oscars Angus Wall e Kirk Baxter, de Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres. A seguinte é Edição de Som e fica com A Invenção de Hugo Cabret: Philip Stockton e Eugene Gearty. E a Melhor Mixagem de Som também fica para Hugo, com Tom Fleischman e John Midgley.
Comprovando um certo favoritismo na canção, os Muppets Caco (ou Kermit) e Piggy aparecem para chamar uma apresentação de acrobacias do Cirque du Soleil que homenageia o cinema, reforçando o tema da noite: o saudosismo, o cinema antigo e básico. “Agora sim, isso é uma festa”, brinca Crystal. Robert Downey Jr. finge estar participando de um documentário, discute com Gwyneth Paltrow e eles chamam o Melhor Documentário: Undefeated, de T.J. Martin, Daniel Lindsay e Richard Middlemas. Chris Rock faz graça sobre a suposta facilidade que é trabalhar com dublagem e chama o Melhor Longa de Animação: Rango, de Gore Verbinski, no primeiro ano sem a Pixar na disputa. Também, o que esperar de Carros 2?
Uma alta e maravilhada Emma Stone entra, com o baixinho Ben Stiller, e ela comemora a primeira apresentação de um prêmio de sua vida. A categoria é Melhores Efeitos Visuais e os candidatos são bons, mas a noite é de Hugo. Infelizmente, em especial para o macaco César. É mais um grupo que agradece a Martin Scorsese: Robert Legato, Joss Williams, Ben Grossmann e Alex Henning. Bom que Transformers não ganhou nada. Melissa Leo, também de O Vencedor (como Christian Bale), vai anunciar o Melhor Ator Coadjuvante, que parece estar entre Christopher Plummer e Max von Sydow. Plummer leva, como esperado, diz que tem seu discurso de vencedor do Oscar desde que saiu do útero da mãe e aproveita seu tempo ao máximo. Toda Forma de Amor (ou Beginners) é um filme discreto, bem simples, e nem por isso desinteressante. E Plummer, aos 82 anos, é o ator mais velho a ganhar um Oscar (é dois anos mais novo que o careca da Academia).
O presidente da Academia, Tom Sherak, faz um merchandising rápido, para em seguida Crystal chamar Penélope Cruz e Owen Wilson, dois atores de Woody Allen, para Melhor Trilha Sonora. Como alguém poderia bater O Artista? O maestro autodidata Ludovic Bource indica que Hugo já levou o que podia, agora é com O Artista. Will Ferrell e Zach Galifianakis fazem bagunça com címbalos para chamarem a Melhor Canção Original, acabando com a alegria do Brasil. Rio não venceu, deixando para Man or Muppet, de Os Muppets, composta por Bret McKenzie.
Angelina Jolie, “a garota original com a tatuagem do dragão”, aparece, se achando muito sexy, para apresentar o Melhor Roteiro Adaptado. Era esperado, mas não muito merecido, que Os Descendentes levasse, e é o segundo prêmio de Alexander Payne (de Sideways), e recebem também Nat Faxon e Jim Rash. O Melhor Roteiro Original também era certo, para Woody Allen, que nunca vai à festa. Meia Noite em Paris ganha, e Allen recebe depois, em casa.
Milla Jovovich lembra os técnicos que levaram os prêmios em uma cerimônia à parte. Inovações como as vistas em A Árvore da Vida não passaram em branco. Depois, sobe o elenco do horroroso Missão Madrinha de Casamento, com piadinhas óbvias de tom sexual, para coroar o Melhor Curta Metragem – The Shore – e Melhor Documentário em Curta Metragem – Saving Face. E ainda o Melhor Curta Animado, que ficou para The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore.
O prêmio que Michael Douglas anuncia é um dos mais esperados: Melhor Diretor. Entre cinco grandes nomes, Michel Hazanavicius (ao lado) é ovacionado, mais uma consagração para O Artista. De suas três indicações (Edição e Roteiro Original também), Hazanavicius ficou com a principal. A mais que consagrada Meryl Streep conta quem foram os honrados na Governor’s Award, a festa que acontece na véspera do Oscar. Os prêmios honorários foram para o ator James Earl Jones, a empresária e filantropa Oprah Winfrey e o maquiador Dick Smith.
No bloco seguinte, foi o momento de lembrar dos profissionais falecidos neste último ano. O clip é acompanhado por uma singela interpretação ao vivo de What a Wonderful World e saúda nomes como Cliff Robertson, Sidney Lumet, Farley Granger, Laura Ziskin e Whitney Houston. Para encerrar, ninguém melhor que a Cleópatra Elizabeth Taylor. O bloco seguinte volta com mais um clip com atores falando sobre o que faz um filme ser inesquecível.
Natalie Portman recita sobre cada um dos indicados a Melhor Ator. Demián Bichir é o imigrante ilegal que luta por uma vida melhor; George Clooney é o sujeito normal numa situação inusitada; Jean Dujardin faz o astro que tinha que se adaptar ao som; Gary Oldman tem surpreendentemente sua primeira indicação como o icônico espião George Smiley; e Brad Pitt é o gerente do esporte que fez milagre com pouco dinheiro e levou vitória a um time azarão. Entre Clooney e Dujardin, ganhadores do Globo de Ouro, o prêmio ficou para Dujardin, que havia levado o prêmio do sindicato dos atores. Seu discurso, lido, homenageou até Douglas Fairbanks, o primeiro apresentador do Oscar, e se encerrou com um alto merci beaucoup.
Colin Firth vai chamar a Melhor Atriz, e apresenta: Glenn Close, o sr. Albert Nobbs; Viola Davis, a empregada nos Estados Unidos racistas da década de 60; Rooney Mara, a hacker investigadora, que teve sua estrela em ascensão em tempo recorde; Meryl Streep, a dama de ferro recordista de indicações; e a experiente Michelle Wiliams, a nova Marilyn do cinema. A aposta parecia certa, mas poderia dar uma zebra, algum tipo de compensação ou jogada politicamente correta. No fim, deu Meryl, em seu terceiro Oscar, sua 17ª indicação, iniciando sua quinta década de trabalho.
Para finalizar, passando de 1h30 da manhã, Tom Cruise apresenta nove razões para que gostemos de ir ao cinema. Uma montagem reúne imagens e sons dos indicados a Melhor Filme e Cruise, depois de parabenizar a todos, conclui: O Artista! O produtor Thomas Langmann agradece, Billy Crystal encerra e O Artista e Hugo saem empatados, cada um com cinco vitórias. Claro que as categorias do francês são tidas como mais importantes. E trata-se do primeiro longa mudo a ganhar o Oscar de Melhor Filme desde 1929 – o segundo da história (depois de Asas, em 1928).
De uma forma geral, os prêmios foram bem distribuídos, com poucas injustiças. A discussão, como de costume, está aberta.
Eu achei esse Oscar um pouco fraco… (Não pelos filmes indicados)
Estava um pouco sério/sóbrio a apresentação e não gostei muito do apresentador também…
A única parte mais descontraída e interessante foi a apresentação do Cirque de Soleil.
Anyway… Os prêmios foram bem distribuídos… mas… não porque eu seja brasileiro… Mas “Man or Muppet” melhor que “Real in Rio”?? NUNCA! 😛
Esse povo do Oscar só pode ter algum problema com o Brasil… Devem indicar de propósito só pra ver a cara de choque quando não ganha… tsc, tsc, tsc…
Bem.. Essa é minha opinião, claro… ehhehe
Ah, a música de “Rio” cativou muito pelo visual que a acompanhou! A canção em si é bem comum e previsível. Não que “Man or Muppet” fosse o suprassumo musical, mas entre duas fracas opções, é claro que a academia opta por Muppets, né. 😛
E mais, aposto que essa galera toda na torcida por “Real in Rio” sequer escutou a música inteira pra opinar (nada pessoal, tá?). Foi influenciada pelo patriotismo; não que isso seja ruim. Só que desse mesmo jeito, Os Marretas levaram a melhor.
Olha, eu curti o Oscar mais conciso, e do apresentador pra lá de batido também. Entre optar por mais um ano da tortura Hathaway + Franco ou Crystal, fico com o Crystal sempre!
Em relação aos filmes, foi MUITO mais fraco que 2011. Tive que me arrastar pra assistir alguns dos filmes indicados, infelizmente. Gostei de “O Artista”, mas não sei se gostei de verdade ou se foi apenas o melhor para se gostar. E o Hugo não me cativou em nada. Que ninguém escute, mas cheguei inclusive a cochilar.