por Marcelo Seabra
Os homens, em Histórias Cruzadas, são apenas adereços necessários, já que a história é sobre mulheres. As que contratam e as que são contratadas. E vemos claramente a divisória entre as personagens bacanas e as de mau caráter, sabendo claramente o que esperar de cada uma. O ano é 1963, em Jackson, Mississipi, cidade e estado símbolos da segregação racial nos Estados Unidos – inclusive, é noticiado o assassinato do ativista negro Medgar Evers. O período era conhecido como a “era de Jim Crow”, devido às leis que separavam os locais que brancos e negros poderiam freqüentar, como escolas, ônibus e até banheiros. Jim Crow era um nome comum atribuído a negros em geral, sempre com peso pejorativo, o que exemplifica bem o pensamento da época.
Skeeter Phelan (Emma Stone, de Amor a Toda Prova, de 2011) é uma jornalista recém formada que volta para casa depois de quatro anos fora. Enquanto tenta conseguir, à distância, um bom emprego em Nova York, ela começa a ver as relações à sua volta de outra forma. Por casa, entende-se uma cidade extremamente preconceituosa, que ainda trata os negros como escravos e as meninas, desde pequenas, já sabem que serão empregadas domésticas quando crescerem, e vão ganhar bem pouco. E o pior: elas acabam sendo mais ligadas aos filhos dos patrões que as próprias mães das crianças, que em sua maioria são dondocas que só se preocupam com a vida social nos clubes que frequentam. Ao menos, as mães do filme.
Um belo dia, no melhor estilo “garota branca resolve arrumar confusão para ajudar os negros (e salva o dia, como fez Sandra Bullock em Um Sonho Possível, de 2009)”, Skeeter resolve escrever um artigo sobre as empregadas das casas sulistas. Como a de sua própria casa, que a criou, sumiu em sua ausência (e as desculpas evasivas da mãe não convencem), ela procura a empregada de uma amiga, a aparentemente perfeita Hilly Holbrook (Bryce Dallas Howard, de Além da Vida, de 2010). Os espectadores já sabem de antemão que ela é uma víbora, mas a maior parte dos convivas dela nunca chegarão a esta opinião, já que partilham de sua visão de mundo.
Com quatro indicações ao Oscar (e chances reais de converter duas: Viola e Octavia), Histórias Cruzadas mostra que 2011 foi um ano fraco para o cinema americano. Só assim para ele estar entre os nove considerados melhores do ano pela Academia. E tem pelo menos outros três títulos dispensáveis nessa lista. Vamos torcer para que, ao menos no resultado final, haja justiça. O livro de Kathryn Stockett foi recusado por 60 editoras até que uma aceitasse a publicação. Vendeu muito, assim como este filme, do amigo Taylor, tem tido um grande público. O que não atesta muita coisa.
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Nossa, discordo em tudo, o racismo, tema do filme, pode ser batido, mas a abordagem é muito interessante, o filme é comovente, vale muito apena assistir.
Ei, Poliana, para ver um filme ótimo sobre o racismo nesta época e região, pegue Mississipi em Chamas.
Abraço!
Brigada pela indicação, vou alugar, abraços! ;)
De fato, muito barulho. Talvez pelo barulho causado, a expectativa foi por água abaixo. Eu assisti ao filme bem antes de ser lançado nos cinemas no Brasil. Tem bastante tempo. Nem sabia desse "barulho". Gostei do filme.
Eu acho que o filme tem mais pontos positivos do que negativos. Para começar, a atuação das atrizes é o ponto alto, elas realmente conseguiram tornar seus papeis em realidade, "vivendo" cada segundo das personagens. Me surpreendi até com a novata Emma Stone. Mesmo que muitos estejam chamando o filme de "fraco", eu acho o contrário. Acho muito bom sim, porque ele consegue tocar as pessoas e levá-las a discutir assuntos geralmente deixados de lado. Ele coloca uma realidade que todos tentam esquecer mas que até os dias de hoje está muito evidente nas sociedades. Mesmo com leis que colocam o racismo como crime, ainda há sim muita discriminação racial, cultural, e por aí vai. "Histórias Cruzadas" não só é comovente, mas também cheio de entretenimento. Quando um filme, livro ou música consegue realmente tocar as pessoas e fazê-las chorar, rir, ou ter um sentimento de nostalgia... Pronto! Ele ganhou o público... Não é atoa que teve tanto "barulho". Eu indico mesmo!!
Pô, Marcelo, vi esse filme por acaso ontem e gostei tanto... Deixe-me fazer uma crítica à sua crítica (rs): você não deixou claro por que não achou o filme grande coisa (seria só por causa do tema "um branco que vira heroi dos negros"?). E sim, eu vi também Mississippi em Chamas, um clássico, e gostei dos dois. Tem coisa a criticar no filme? Até tem, tipo a trilha sonora super discreta, com vários momentos sem fundo musical (que diferença faz um Enio Morricone, vide "A Missão" e "Cinema Paradiso", que só fizeram sucesso por causa dele). Mas daí a dizer que "não foi grande coisa"... li o texto todo pra entender seus argumentos, mas não vi nenhum... rs Diz aí exatamente o que você não gostou!
Renato, acho que a passagem que melhor define é: “garota branca resolve arrumar confusão para ajudar os negros (e salva o dia, como fez Sandra Bullock em Um Sonho Possível, de 2009)”. Assim como Green Book, é uma forma banal de ver o racismo e mostrar como brancos bem intencionados são os salvadores dos negros. Tudo muito água com açúcar aparentemente, mas reforçando uma visão racista.